Distorção poderia bem ser o primeiro atributo dos jovens Cong. Mas (r)evolução é um termo que os reveste muito melhor.
Na capa, a mão da qual vemos a ser removida a ligadura de compressão para combate, é a esquerda. Coincidência ou não, este disco dos canadianos é puro combate! Começam por nos dizer que a distorção, ao contrário do que nos fazem ver, não tem que ser parte da luta. A indignação contra a apatia pode, e deve, ser inteligente. Os ataques às ditaduras modernas não exigem armamento. Claro que o som praticado por eles reflecte uma era. Meados de 80 até inícios de 90, altura em que o pós-punk começou a abordar as questões sociológicas de modo mais moderado e sensato. A crise que agora vivemos, de valores sociais e políticos, está a revalidar manifestações de intervenção directa e um novo ciclo de avaliação da felicidade humana. Viet Cong é um exemplar categórico disso mesmo. As vozes e os instrumentos são as suas armas.
E ao falarem na Frente Nacional de Libertação do Vietnam, os Viet Cong estão a falar dos americanos; e estão também a falar dos chineses, de quem neste momento tanto se fala, quer por razões económicas e politicas, quer por razões sociais. Prova da acutilância da escolha deste nome – tão controverso como uns Gang Of Four ou uns Dead Kennedys – foi o cancelamento de um concerto da banda no estado americano de Ohio.
Mas para lá das características intervencionistas, é importante esclarecer que este álbum também aborda outras questões, relacionadas com o amar e as relações humanas. E como quem não sente não é filho de boa gente… os rapazes aproveitam este momento das suas vidas para purgar dúvidas existenciais. Eles, tal como qualquer cidadão do mundo, sofrem igualmente de amarguras e indecisões. E reclamam-nas! Sentem-nas na pele e falam delas, como se as suas silhuetas representassem a indefinição dos seus futuros e a vinda da implacável gadanha.
Este disco é aquilo a que eu chamo de obra completa. A sonoridade, a mensagem e a atitude comportamental deste projecto, concorrem todas para um e o mesmo fim. Sem contradições, sufocados nos temas mais perenes da história da humanidade, Viet Cong superioriza-se face à restante alienação artística. Este disco tem raça! Tem um carisma de eterno combatente pelos valores mais dignos dos princípios aristotélicos.
Numa análise mais factual, arrisco-me a afirmar que este disco possui uma alma semelhante à do disco de 1992 dos Rage Against The Machine. Experimentem ouvi-lo e lê-lo repetidamente; e não desistam…