Seria uma infelicidade, se a sequela nos deixasse a abanar a cabeça de descontentamento. E ainda bem que isso não aconteceu. Bem pelo contrário! Temos mais um disco de genuína qualidade, mais um promissor arranque e uma grande vontade de marcar.
Após o desaparecimento dos Woman, Matt Flegel decidiu criar uma banda de rock pós-punk chamada Viet Cong.
A aceitação do público e da crítica foram favoráveis. E percebe-se porquê. Um disco cru, absoluto, repleto de excelentes reminiscências, transportava-nos de volta aos tempos “felizes” do pós-punk gótico. “Continental Shelf” catapultou a banda canadiana para as redes sociais, e acabou por captar igualmente a atenção de Van Arman, fundador da editora indie rock Jagjaguwar. Os Viet Cong passam então a desfilar ao lado de nomes como Black Mountain, Dinosaur Jr. ou Unknown Mortal Orchestra. As coisas estavam finalmente a encarrilar. Aparentemente. Depois de sedimentada a aparição e já com umas dezenas de concertos dados, Flegell e o restante colectivo vêem-se impedidos de tocar em Oberlin/Ohio, a 14 de Março de 2015 por causa da controvérsia gerada à volta do seu nome. A América do Vietname continua escaldada, com feridas por sarar e memórias indeléveis.
Conclusão, mais um obstáculo para ultrapassar. Mais uma preocupação para resolver. Depois de gerada a segunda identidade, os miúdos de Calgary são forçados a dissolver pressupostos e a ter que reinventar um nome. A juntar a este dilema, surgiram outros do foro pessoal. Estavam pois reunidas as condições para o quarteto migrar a definição do seu projecto.
Preoccupations emerge de uma visão naturalmente preocupada da vida e da condição racional humana. Grande parte das letras revelam-se produto da dissecação de questões nucleares da existência. Aliás, o álbum inicia com uma frase premonitória: “With a sense of urgency and unease, Second-guessing just about everything”.
A seguir a “Anxiety”, tema de abertura – o tema mais Joy Division deste longa duração, segue-se “Monotony”. Contradição propositada em estilo labiríntico, coincidente com a construção musical do restante trabalho. E é no tema “Memory”, o qual conta com a participação luminosa de Dan Broeckner, que, os agora Preoccupations, atingem o pináculo do seu ecletismo. São mais de onze minutos do disco, sem aviso prévio, ocupados em nos relembrar que a música é arte. Os restantes cinco temas culminam em “Fever”, que, apesar de conter traços disruptivos e desestruturantes, comuns a todos os outros temas do álbum, empurra-nos para um fervor de coragem e resiliência. Como Preoccupations, os antigos Viet Cong decidiram incorporar escalas mais melódicas e confortáveis. Sinónimo de emancipação sónica e aperfeiçoamento musical; ou não, pode ser apenas coincidência e estado de espírito. Enfim, ignoremos as exaustivas categorizações e aproveitemos livremente uma das melhores novidades de 2016.