A existência dos Savanna não é nenhuma novidade. Começaram de mansinho em 2012, com Aurora. Encheram-nos a boca de saliva com o single de dupla face, Gods We Are, no final do ano passado. A espera parecia não acabar e, em Março deste ano, saiu cá pra fora, pela NOS Discos, a experiência completa pela qual todos esperávamos.
Antes de falar sobre a dita experiência, gostaria de me confessar e pedir perdão. A primeira vez que ouvi as duas primeiras faixas, detestei. É o que dá ouvir música com auscultadores de merda. Mas, depois de uma segunda, terceira, quarta, quinta escuta…
A rodela de 43 minutos começa com “Destruction Derby”, uma daquelas malhas psicadélicas que nos atiram para a ponta oposta do espaço num segundo. A guitarra irrequieta que nos empurra o cérebro de um lado para o outro serve de introdução para os teclados etéreos com que somos presenteados a seguir, apenas para levarmos uma bujarda de fazer ir até ao outro lado do campo na segunda faixa, “Fancy Pants”. Não adianta estar para aqui a adjectivar tudo aquilo que a porcalhona guitarra que preenche a canção nos faz, adianta sim ouvi-la na sua pujança completa. Uma e duas e já vamos embalados. Não há escapatória.
Terceira faixa e há nela uma forte bússola (Tame Impala) que indica a direcção certa. Acalmamos do caos bom da canção anterior num oásis de riffs e drops, numa aventura digna de um sonho lúcido que, no final, só alimenta a fome de mais uma. “Safari” é uma arrojada faixa de ginga e sedução, com ares de “Mind Mischief”, que nos lembra mais um sonho lindo e acordado, a bordo de um jipe no Badoca Park, mais os tios e os avós e quem mais se juntar.
O resto do disco continua numa insana viagem por caminhos que não nos arrependemos de tomar, que sabem sempre bem, que soam sempre a sonho e a verão, a psicadelismo e experimentação – com especial destaque para a faixa-título. Há piscares de olhos a milhões de coisas diferentes: às dissonâncias do prog dos Gentle Giant; ao kraut maquinal dos Kraftwerk; ao psych mais orquestral e apoteótico dos anos 60; ao proto-metal dos Black Sabbath; à sinfonia intocável dos Genesis; a uns Radiohead em plenos 90s, com uma boa dose de phasers em cima – na sonolenta “FuzZzZzZz” -, misturados com gritos delirantes e progressões de notas à Syd Barrett. Mas não só do velho se faz novo: há também inspiração em psicadelismo mais recente pra picar à descrição, nesta colecção de sons que ultrapassam barreiras temporais e sonoras. Como nos sonhos, no disco dos Savanna há de tudo – recortado, remisturado e colado. Do headbanging ao disco dancing, haverá som pra todo o gosto e ocasião. É bom ver uma banda que viaja tanto dentro do seu próprio planeta.
A derradeira aprovação caberá ao público, mas prevemos um futuro áureo para estes rapazes. Não haverá quem sobreviva à energia dos Savanna no final deste cósmico portento, estando as cartas lançadas para o dia dia 2 de Abril, no Musicbox, onde os Savanna terão o seu teste final. A julgar pelo trabalho que mostraram, não será difícil passar.