Revolver é um disco absolutamente heterogéneo sem nunca perder a coerência. Há baladas, há rock experimental e distorcido, há a emergência de mais um grande compositor na banda e há uma ambição que os fez subir um patamar, tornando-se assim absolutamente ímpares. Há, em suma, a confirmação da genialidade dos Beatles.
Os Beatles foram o maior grupo musical na década de 60. É uma opinião subjectiva, claro. Mas como não dizer isto quando os 60’s foram o período mais profícuo de uma das maiores bandas, se não a maior, da História da Música? Use-se os critérios que se quiser, a genialidade do grupo inglês salta à vista de quem os ouve com a mínima atenção, mesmo nos dias de hoje.
Revolver, em particular, é um dos discos da minha vida. Os Beatles já tinham lançado belíssimos discos – basta atentar nos dois anteriores. Help! tinha canções marcantes como “Dizzy Miss Lizzy” e “You’ve Got To Hide Your Love Away”. O álbum que se lhe seguiu, Rubber Soul, tinha canções inovadores como a “Norwegian Wood” e músicas marcantes como “Drive my Car” (que ainda hoje entoamos mentalmente em dias de sol) e a magnífica “Think for Yourself”, por exemplo.
Ainda assim, Revolver é Revolver. Se fosse colocado perante um cenário em que só pudesse ouvir um único disco para o resto da vida, escolheria provavelmente Revolver. Sim, há tantos outros: um Songs of Love and Hate, um Are Your Experienced, um The Queen is Dead, um London Calling, um Heartattack and Vine, um Unknown Pleasures, um The Velvet Underground & Nico, um Highway 61 Revisited, um Morrison Hotel… Mas haverá álbum mais brilhante, mais inovador e sobretudo mais perfeito que este Revolver? Dificilmente.
Revolver é o álbum em que George Harrison emerge como grande compositor dentro do grupo. É dele a autoria de “Taxman”, onde sobre um instrumental espacial canta de forma mordaz «Should five per cent appear too small/Be thankful I don’t take it all» e «Don’t ask me what I want it for (Aahh Mr. Wilson)/ If you don’t want to pay some more (Aahh Mr. Heath)», numa crítica clara aos impostos locais e aos políticos ingleses. É indiscutivelmente uma das grandes canções do grupo e em termos líricos há uma ironia provocante absolutamente deliciosa, acompanhada, é claro, pela guitarra e pelo baixo numa jam que só peca por ser curta e não nos deixar mergulhar numa trip gigante.
Há a “Tomorrow Never Knows”, essa primeira grande pérola da distorção e do psicadelismo enquanto música para visitar outras galáxias. É, aliás, a grande faixa do disco, por ser a mais inovadora e experimental. Mas há mais: as guitarras a pairar sobre a voz de Lennon em “And Your Bird Can Sing”, Ringo Starr a entoar na nossa cabeça “We all live in a yellow submarine”, o dedo de mestre de Harrison na composição de “I Want to Tell You” e no arrastamento sonhador de “Love You To”, há as faixas “Eleanor Rigby” e “Here, There and Everywhere” como lição de Paul McCartney sobre como se escreve baladas sem ser choninhas e lamechas.
Enfim, há, em Revolver, um disco absolutamente heterogéneo sem que nunca perca a coerência. Há baladas, há rock experimental e distorcido, há a emergência de mais um grande compositor na banda (o que é equivalente a dizer a emergência de mais um grande compositor do Séc. XX) e há uma ambição que os fez subir um patamar (eles que já estavam num pedestal) e os tornou assim absolutamente ímpares. Há, em suma, a confirmação da genialidade dos Beatles.
Comprei o original de 1966 (Matriz Mono – Alta Fidelidade). Me disseram que não “pula”, embora esteja riscado. Bem, discos fabricados nos anos 1950 e 1960 varios deles eram ‘grossos,pesados’ nos dedos. Alguns aqui no Brasil vinham escritos “inquebravel”. Este, talvez seja o “mais radical” que a banda gravou. Se bem que quando foi lançado, viraram banda de estudio!! – marcio “osbourne” silva de almeida – jlle/sc