Dois anos depois do seu último concerto em solo nacional, Kristian Matsson, ou The Tallest Man on Earth, traz o seu Eu Estranho de regresso à Aula Magna, já reconciliado consigo mesmo e de coração remendado – e, melhor ainda, com disco novo pronto a sair.
The Tallest Man On Earth apresenta-se, desta vez, de branco (antes veio de preto), sozinho (antes veio de banda) num palco onde apenas tem como companhia uma guitarra e um piano – e um interessante jogo de luzes que ajuda a criar um ambiente intimista. Parece genuinamente contente por estar em Portugal – ou, talvez, apenas em palco novamente, até porque confidencia, já a meio do concerto, que esteve dois meses em roupa interior fechado no apartamento. Parece que estamos na sala do músico: a mística da Aula Magna também ajuda ao efeito mas a presença e simpatia de Matsson (e, sobretudo, o tom confessional) ajudam a compor a ilusão.
Conversa muito, entre músicas, vai-se perdendo no monólogo, faz soltar gargalhadas com o Eu Estranho que assume como personagem no palco: uma marioneta de Anna, a produtora que o ajuda a trocar de guitarra (e que aparece totalmente vestida de preto, com o cabelo muito preto, a ajudar à criação da personagem. Anna, diz o Homem Mais Alto do Mundo, é que lhe diz o que tocar, é que escreve as músicas, é que faz tudo. “Nem sei se estou mesmo a falar inglês, pode ser só a Anna a fazer mexer as minhas cordas vocais”, diz a certo ponto. Pede palmas, para que ela seja mais boazinha para ele, mesmo quando ela não o deixa tocar canções alegres.
Em torno desta personagem que Matsson cria vai-se criando o concerto: The Tallest Man anda como se fosse uma marioneta, tem tiques como se tivesse Tourette, atira a palheta, atira um banco, ameaça atirar várias guitarras, bate violentamente com os pés no chão (todos acompanham com palmas, claro), altera as músicas com novas modulações na voz (excelente as mudanças em “Love is All”, por exemplo). Enquanto vai trocando entre guitarra, banjo, juntando harmónica, sentando ao piano, vai desfiando um rosário do que parecem confissões e do que andou a fazer nos últimos dois anos, desde a última vez que nos visitou. E nós, na plateia, rimos com ele, interagimos com ele, gritamos, fazemos barulho (“Que coro de animais espontâneos”, diz a certa altura”, não queremos desconcentrá-lo mas também não queremos que se sinta sozinho. Ele próprio quer ficar perto de nós, de tal forma que no final desce para a plateia e senta-se numa das cadeiras enquanto continua a tocar guitarra.
Musicalmente, The Tallest Man on Earth trouxe algumas faixas do seu reportório habitual, com interpretações sólidas e sem surpresas, covers (de Nina Simone a Abba, passando por Aretha Franklin), mostrou “The Running Styles of New York”, música do novo trabalho, que testou com o público que ali estava e fecha, antes do encore, com “King of Spain”, onde surge como um bailarino quebrado a tentar dançar flamenco com a guitarra – ainda regressa, para um encore curto, e é tal a ovação em pé que Matsson parece não se querer ir embora, mandando beijos, fazendo vénias e dizendo adeus. É preciso que a música ambiente comece a tocar (e ele ensaie uns passinhos de dança) para o sueco finalmente se decidir a sair do palco. Deliciado connosco, tal como nós com ele.
Fotografia: Mafalda Piteira de Barros