First Breath After Coma apresentaram NU no TimeOut Estúdio, em Lisboa, numa noite
que se adivinhava moderada.
A banda de Leiria desceu à capital para mostrar a mais recente criação, que precede Drifter, o álbum lançado em 2015. O concerto começou com a música que dá as boas-vindas a NU: “The Upsetters”; e vislumbravam-se caras azedas, meio amedrontadas até, não estivesse o som desprimoroso, o que podia transformar-se num mau presságio para o concerto. Sem grandes compassos seguiu-se uma “Howling For A Chance” que destapava uma intimidade capaz de nos fazer esquecer dos problemas acústicos.
Trouxeram-nos prontamente o segundo single do álbum, “Change”, música que reflete o momento de partilha e criação singular dos First Breath After Coma que, tal como nos conta Roberto Caetano, há vários meses recuperaram uma habitação e passaram a viver juntos num espaço de criação comum, e foi assim que cada um deu o seu cunho muito pessoal a cada música. Apesar de se tratar do concerto de apresentação do novo álbum, nada impede que se toquem temas mais conhecidos do público, como “Apnea” e “Nagmani”, músicas que transmitem aridez e uma beleza bucólica.
Voltavam à intimidade de NU e o mau presságio não se verificava, ressuscitava-se um concerto de diálogos, que transmitiu todas as palavras chave do álbum: fragility, fondness, empowerment, attraction, wreckage, helplessness, anguish e maze. Uma noite que demorou a arrancar, mas atingiu uma velocidade fenomenal e ninguém sabe em que momento aconteceu o turning table. “Salty Eyes”, single de apresentação de Drifter, chega para arrancar raízes e despojar uma poesia que facilmente representa a explosão de uma supernova se o espaço não fosse um vazio onde o som não se propaga.
A música terminava com um público que continuava a entoar o refrão dada a falta de unanimidade quanto ao sentir que aqueles sons provocam, e é isso que os eleva à qualidade de som astral. A saída para o primeiro encore faz-se com “Heavy”, o primeiro single de NU, lançado no final do ano passado. Voltaram para um momento metafísico de nos tornar transcendentes ao lugar onde os ouvimos, em que Rui Gaspar interpreta “I Don’t Want Nobody”, música que encerra o disco e que enfatiza o processo de criação, uma vez que foi pensada integralmente pelo próprio. Houve tempo para um segundo encore, com “Feathers and Wax” e terminava-se a festividade com “Blup”.
First Breath After Coma soa ao cenário inóspito onde queremos viver. Soa a árvores com cordas vocais. É música que consome numa psicanálise extrema da envolvência do que já vivemos e nem lembramos. Na inconsciência da lavagem de tudo o que não é visível nem palpável.
Fotogafia: Inês Silva