É com muito prazer que se ouve Stoned Weekend. O sabor de uma certa América chega-nos através das vozes e das guitarras de Becca e Miles, os Drug Couple de serviço. Pode até acontecer que passemos a tê-los como novos amigos de estimação.
A história conta-se como tantas outras. Becca e Miles conheceram-se quando este último produziu um disco da banda em que ela tocava. O resto é como em certos filmes. Engraçaram um com o outro, começaram a fazer música e são hoje um casal. Tão simples quanto isto. Mas, como não é de estranhar em quem é artista, continuaram com vontade de fazer mais música e é assim que tudo termina (ou inicia, uma vez este é o primeiro longa duração da dupla), com a feitura de Stoned Weekend, o disco que aqui vos trazemos. No entanto, Becca e Miles já haviam gravado dois mini-álbuns (ou dois EPs, se preferirem), o primeiro em 2019 (Little Hits) e o segundo no ano seguinte, Choose Your Own Apocalypse. Surge então, como dissemos, a decisão do passo seguinte, e pelo que escutámos, Stoned Weekend não resultou de um qualquer lost weekend à maneira antiga. Mas, segundo consta, parece que algum lsd consumido moderadamente terá causado um determinado efeito. Certo psicadelismo não engana e é sempre bom darmos pela sua presença. Há muito groove nos dez temas do disco, algum rock de pendor mais alternativo e boas malhas, algumas delas de exceção. Becca e Miles merecem ser ouvidos, isso parece-nos certo. O nome da banda e o título do álbum, convenhamos, também nos faz sorrir, aguçando-nos o apetite de ouvintes. Não resistimos, e foi o que, em boa hora, fizemos.
“Stoned Weekend”, a faixa inicial, começa logo por ser reveladora do tal psicadelismo anteriormente referido. O som relaxado lembra alguns temas antigos dos saudosos R.E.M., o que já não é dizer pouco. Cantam-se, entrou outros, os versos “Spent my whole life stoned / Spent it all alone / But I finally found a friend / And I hope this weekend never ends”, o que só vem provar que “coisa mais importante no mundo não há”, isso de ter amigos. “Missed Our Chance”, o segundo tema, é rock honesto com boas e estridentes guitarras pelo meio, vibrante, e dura até a chegada de “Lemon Tree”, o single do álbum, bonito, lânguido, luminoso nas suas elegantes harmonias. É uma canção sobre a mudança, mudança de vida, de lugar, mudança de capítulo rumo a uma nova etapa. Se há riscos em começar de novo, haverá também a esperança de um tempo melhor por vir. Stoned Weekend vai-se repartindo entre toadas diferentes, umas mais tranquilas, outras com mais sangue na guelra, como provam os temas “Linda’s Tripp” e “Our December” (com distorções em grande plano e estilo, fazendo pensar em Yo La Tengo ou Guided By Voices, por exemplo). Por outro lado, quando um certo tom mais sonhador e etéreo ocupa o centro das composições, destacam-se, para além das mencionadas “Stoned Weekend” e “Lemon Tree”, os temas “Little Do I Know”, “Blue Water” e “Wyld Chyld”, esta última carregada de mistério, densa e perturbante (“She got born too soon / The doctors came at night /…/ She got thinner / (Uh huh, uh huh) / Skipped her dinner / (Uh huh, uh huh) /…/ Her flowers never bloomed / Her thumb turned black”). O disco termina com uma espécie de remake do tema inicial (“Still Stoned”), dando conta de uma certa circularidade do trabalho. Ou, se quisermos ser mais curtos e grossos, dando a impressão de que a droga era boa e duradoura.
Stoned Weekend ouve-se com muito agrado, e por isso apetece voltar a ele de quando em vez. Não será difícil imaginar quem possa ouvi-lo com um copo de bourbon na mão, tendo ao lado uma garrafa quase vazia de Jack Daniel’s. Isso e um cinzeiro com claras marcas de quem fumou algo para fintar a consciência dos dias.