Com telediscos de luxo imaginados até ao pormenor, com cenários de luxo onde é tudo do melhor e concertos do Interior até à Costa, Re-Definições é o concretizar dos Da Weasel como a banda portuguesa mais popular de uma geração. 20 anos depois ainda é bom voltar a ele.
Se o sucesso comercial de uma banda se mede pela atenção que as crianças lhe dispensam (e mede-se assim!), os Da Weasel eram a banda portuguesa de maior sucesso em 2004. Há uma geração de malta que tem hoje entre 25 e 30 anos cujo primeiro disco foi Re-Definições ou um Now! que trazia a “Re-Tratamento”, o disco e canção que cimentaram o lugar da doninha na pop mainstream e que introduziram milhares de putos ao mundo maravilhoso do hip hop ‘tuga.
À boleia do single mais orelhudo que tinham lançado até à data – “Re-Tratamento”, os Da Weasel tornaram-se numa banda dos 8 aos 48 (será exagero imaginar os residentes do Lar dos Pastorinhos de Fátima a abanar as próteses ao som do refrão pastilha-elástica de Virgul). Milhares de pais e filhos terão trauteado em uníssono aquele “Ahyeah, ahyeah, nananana/ Yeah, ahyeah, ahyeah, nananana”, ignorando todas as referências altamente sexuais. E outros tantos terão comprado o CD, introduzindo crianças puras e imbérbes a conceitos tão maravilhosos como: drogas pesadas, drogas leves, sexo, ressacas e miúdas que quase fazem uma mamada em troca de um algodão… “Quase que fazem”, o caralho. Fazem mesmo!
Re-Definições não é um disco para pais que não querem dar explicações às crianças mais curiosas (“Mãe, como é que eles vão acabar com o stock nacional de Viagra? E para que serve o Viagra?”; “Pai, por que é que o flow deixa molhada a menina da menina? E o que é que a vaselina faz deslizar?”; “Pais, por que é que o marido da Carochinha tem de sair do meio da rua e encostar à parede? É porque o filho da puta só faz é merda?”). A verdade é que a pop de “Re-Tratamento” destoa do alinhamento do resto do disco, no qual os Da Weasel voltam ao thrash (“Bomboca”), atacam o hip hop mais dançável (“Baile”), o hardcore do people lá da rua (“Loja”), uma canção para cantar à babe e uma para dedicar a recém-nascidos. Haverá certamente pais que deram por muito mal empregue os 15 paus gastos neste disco, arrependendo-se de não ter comprado aquele álbum do James Blunt que tinha a “You’re Beautiful”. Mas os seus filhos ficaram vidrados naqueles temas que não soavam a nada que se ouvia na rádio de então e que os levou a descobrir a MTV, os Ornatos Violeta e o que havia para trás na discografia dos seis rapazes de Almada.
Musicalmente havia temas como “Casa (Vem Fazer de Conta)” que mostrou um Pacman mais vulnerável do que nunca e uma orquestração diferente de tudo o que os Da Weasel tinham feito até então, um regresso às origens e à essência com “Bomboca (Morde a Bala)”, uma abordagem mais aberta ao DJing, principalmente em “Carrossel (Às Vezes Dá-Me Para Isto)” e “Baile (Aquele Beat)”, funk nos interlúdios ou a vertente experimental que nunca abandonou o grupo.
Sobre a banda: é talvez o disco com os melhores inputs de guitarra de Quaresma, as letras mais bem escritas por Pacman até à data (o disco seguinte mostra um novo salto na capacidade lírica), uma coesão ímpar imposta pelo general Jay, um destaque inaudito – para o bem e para o mal – dado a Virgul, um Guillaz a tocar certinho como um relógio e uma estreia de luxo de DJ Glue.
Não sendo o melhor disco da banda (a coroa vai para Podes Fugir Mas Não te Podes Esconder e mesmo 3º Capítulo é um álbum mais coeso), Re-Definições é uma revisão da matéria dada, com muito hip hop, alguns pozinhos rock e punk e ainda espaço para alguma experimentação. Há algumas falhas no disco, como demasiados interlúdios, temas fracos como “Despertar (O Flow Que Sai)” e uma faixa final que não é de ouro e que fazem com que o disco se arraste um pouco mais do que devia, mas que não maculam o que se destaca.
Re-Definições levou a doninha ao topo comercial graças a temas como “Re-Tratamento” e “Força (Uma Página de História)”, e contribuiu com mais uns marcos da cultura hip hop nacional com “Carrossel (Às Vezes Dá-Me Para Isto)” ou “GTA”. Mas acima de tudo, marcou tanto uma geração que o Afonso partilhou a canção “Joaninha (Bem Vinda!)” quando soube do nascimento do meu rebento, 19 anos depois do disco ter saído. “Já tou a beijar todos os meus amigos e a dizer que os amo” e é me’mo assim que eu gramo.