Os Da Weasel foram daqueles raros casos em que, enquanto banda, estiveram sempre a subir. Não necessariamente em termos de qualidade (embora, em boa parte, também) mas sim em termos de dimensão, de ambição e de sucesso comercial.
Em 2001, a banda da doninha estava “em ponto de rebuçado”. Com três discos e um EP de estreia no saco, a cada lançamento o fenómeno ia crescendo: do boca a boca no bairro até à rádio, passando pelos muitos concertos que o conjunto dava, por todo o país. Tal como acontecera até aí, também nesta altura há uma saída, a de Armando Teixeira, membro fundador do grupo e responsável pela programação e maquinaria. Vinha a caminho DJ Glue, que ainda assim só se juntaria já depois da edição deste Podes fugir mas não te podes esconder, no finalzinho de 2001.
Com a popularidade em alta, este é um momento em que, em vários sentidos, se dá um salto em frente. É o disco mais bem produzido até então – cortesia do sempre excelente Mário Barreiros; é o disco em que os videoclips se profissionalizam a sério; é o disco em que colaboram os Orishas, banda de hip-hop cubano; é o disco em que os rapazes criam personagens em BD como alter-egos (à boleia dos Gorillaz?); e é o disco dos Da Weasel que atingiu, pela primeira vez, o galardão de ouro em vendas.
O trabalho de formiguinha (ou doninha) dava então grandes frutos, mas toda esta produção não traria resultados não fosse a inspiração musical e lírica da banda. Começando pelas letras, é aqui que Pacman assume um registo mais abstracto e menos de “retratista engajado”, fazendo deste um trabalho mais lúdico e mais universal do que os anteriores. Na verdade, dentro da sua matriz musical sempre assumida, tivemos aqui a prova definitiva de que os Da Weasel podiam, se quisessem, ser uma grande banda pop.
A ponta do aríete foi o single “Tás na boa”, recuperando os sons do rock mais agressivo que os membros fundadores ouviam enquanto putos, nas ruas e nas salas de Almada (as saudades desse tempo são bem palpáveis em “Jay”); mas também “Sigue, Sigue!”, a já falada parceria com os Orishas, numa fusão com toques latinos, tendo a rua como casa comum.
Podemos (e devemos!) falar ainda de outras músicas, como a excelente, nocturna e sensual “Mata-me de Novo”, o pop afunkalhado de “A essência – vem sentir” ou o flow superlativamente descontraído de “O que quiseres – tá tudo bem”.
A grande conquista dos Da Weasel em Podes fugir mas não te podes esconder é, na nossa opinião, terem conseguido conciliar duas façanhas que corriam o risco de ser contraditórias: ao mesmo tempo que faziam o seu disco mais “profissional” conseguiam ser mais livres do que nunca, fazendo o seu som abrir as asas para caminhos novos, sempre com o hip-hop como base mas acabando, aqui e ali, bem distantes desse ninho.
Para os fãs, este não é um disco particularmente acarinhado, não sabemos bem porquê. Para alguns, este ficou como o álbum “nu-metal” dos Da Weasel, mas basta ouvir hoje em dia para perceber que isso não é apenas injusto, não tem mesmo nada a ver.
Ao contrário de vários dos trabalhos anteriores, Podes fugir mas não te podes esconder continua a soar contemporâneo por inteiro, nada datado, sem qualquer daqueles momentos que nos fazem dizer, em tom de desculpa: “pá, eram garotos”. Aqui, os garotos haviam crescido. E dão-nos um belo disco que ainda bate bem, tanto tempo depois.