Os ingredientes que definiriam a imagem de marca dos Da Weasel só se revelam na máxima força ao segundo disco, o 3º Capítulo.
Há histórias que se começam a contar pelo fim. Também as há que contamos de trás para a frente ou, mais exigente para o escriba, entre saltos temporais. E porquê? Nem sempre os arranques são lineares, dificilmente ilustram o verdadeiro rumo dos protagonistas e raramente são o momento mais marcante de histórias a que já vemos o epílogo. É o caso dos Da Weasel. É verdade que há um EP (More Than 30 Motherfxxxs) e um primeiro disco de onde até salta o primeiro sucesso (Dou-lhe Com a Alma). A verdade, contudo, é que a doninha só arranca no 3º Capítulo.
Que não se desmereça a energia de “God Bless Jonhy” (cuja primeira versão se ouve no EP) ou o impacto que o single de “Dou-lhe com a Alma” teve no Portugal de 1995 – pouco dado ao hip hop (Rapública é de 1994) e onde cantar em português estava longe de soar cool. Ainda assim, com a vantagem de terem passado quase trinta anos, hoje é claro que os ingredientes que definiriam a imagem de marca dos Da Weasel só se revelam na máxima força ao segundo disco, o 3º Capítulo, que afinal também é o primeiro passo na afirmação da identidade de uma banda que se faria maior que qualquer com rimas e beats como principais ingredientes.
O crescimento ouve-se nas letras – quando abordam as diferenças sociais logo a abrir com “Pedaço de Arte”, a violência policial em “Casos de Polícia” ou no divertido retrato social a que se lançam em “TodaGente”, a par de “Duía”, o grande single do disco. Também se ouve na música, cujo espetro se alarga a universos inéditos. Ouve-se o rock e o hip hop em que se moviam, mas agora ouve-se também reggae (“Ragga Airlines” ou no remix de “Duía”) ou música eletrónica de pleno direito (remix de “Pregos” ou “Casos de Polícia”).
O país ter ficado a cantar sobre o telemóvel do vizinho ou como, enquanto todos gritávamos “todos diferentes, todos iguais”, muitos achavam que persistiam “uns quantos bacanos a mais”, devia ter servido de alerta. “Duía”, balada ainda hoje entre as músicas mais ouvidas da banda, podia ter sido um alerta ainda mais evidente – os Da Weasel estavam apenas a arrancar rumo a um estatuto raro na música nacional.
Entre quem os apanhou a ‘dar-lhe com alma’ ou a contar a história de Bruno, o que passou de bom aluno a mau polícia em Almada, e os que, muito depois, começaram a dançar ao som de “Dialectos de Ternura”, há uma mudança de geração. E pelo caminho os Da Weasel atravessaram várias modas musicais. Inesperado? Nem por isso. Sempre lá esteve tudo o que faria o país dançar e decorar refrões. Sempre lá esteve o baixo, a caixa de ritmos e a apurada guitarra, também sempre lá esteve o talento de Carlão, capaz, como poucos, de rimar sem soar a rap, de cantar sem parecer estar a tentar fazê-lo. E sempre foi evidente? Quase. Ou, pelo menos, assim o é desde o 3º Capitulo, o primeiro passo.