Os Cave Story levaram a tour de apresentação do seu novo álbum à SMUP, a quase paredes meias com a praia da Parede, e mostraram que ainda sabem como fazer bom barulho.
O disco deste ano dos Cave Story, Wide Wall, Tree Tall, lançado a 31 de março, é o regresso da banda das Caldas da Rainha aos discos, depois de um hiato de 5 anos. Afastando-se ligeiramente da onda mais apunkalhada DIY de Punk Academics, de 2018, a banda de Gonçalo Formiga, Zé Maldito, Ricardo Mendes e Bia Diniz (aka April Marmara) apresenta agora um belíssimo conjunto de canções curtas e diretas, cheias de guitarras soalheiras e com um sentido de humor cáustico, que demostram que a banda está mais refinada e mais crescida. É que, parecendo que não, os Cave Story estão quase a fazer 10 anos de carreira (o primeiro EP, Demos, é de outubro de 2013), facto que nos faz ter a certeza de duas coisas: os Cave Story cresceram muito enquanto banda desde os seus primeiros trabalhos e nós estamos a ficar velhos.
Assim, os Cave Story estão por estes dias ocupados a mostrar o novo trabalho pelo país. A tour que começou no Porto em Abril e passou por Guimarães e Aveiro antes da estreia em Lisboa, no B.leza, no passado dia 18 de Maio, rumou na sexta feira aos subúrbios da AML para um concerto na bela Sociedade Musical União Paredense, vulgo SMUP, um valioso e solitário reduto de cultura na linha do Estoril.
Entrando, reparamos que os instrumentos estão montados no chão, ignorando o palco que se ergue atrás e comendo espaço à plateia, numa mise en scène que não se quer levar demasiado a sério, sem ser, por isso, desleixada. A proximidade não é despropositada. Os Cave Story podem estar crescidos, mas ainda sabem rasgar como antigamente, e percebem que a sua música continua a funcionar melhor em salas pequenas e suadas, tirando vantagem da simbiose entre o público e a banda e, sobretudo, da curta distância entre os ouvintes e os altifalantes.
Um pouco depois da hora marcada, os acordes de “Hill So White”, tema de Punk Academics, chamavam a audiência mais distraída do pátio exterior. Estava na hora do punk. Sem perder muito tempo com conversas, só um obrigado entre cada canção e chega (estamos aqui para dançar), os quatro músicos foram percorrendo as faixas de Wide Wall, Tree Tall, entrecortando-as, aqui e ali, com mais algumas pérolas do passado, como “Prime Time”, do EP Garden Exit, ou “Punk Academics” e “Special Diners” do disco de 2017. Fica claro que, apesar de o novo trabalho soar impecável na sua versão digital (infelizmente ainda não existe uma versão física), os Cave Story são uma banda para se ouvir ao vivo. O som está alto e límpido, permitindo-nos distinguir bem as guitarras concorrentes de Gonçalo e de Zé, a bateria de Ricardo e o baixo ondulante de Bia, e as canções parecem ganhar texturas e crescer no caos barulhento que os quatro criam a tocar juntos. Algumas canções são rápidas e acabam de repente, criando alguma confusão no público que queria mais. Outras demoram-se em viagens elétricas deliciosas que nos lembram música de outros tempos e a juventude perdida (ou não).
Perto do fim, Gonçalo Formiga agradece à SMUP pelo acolhimento “nesta sala tão bonita” e, depois da devida publicidade aos discos e às T-shirts à venda no local, diz-nos “a próxima é mais ou menos a última”. Lançam-se então numa cover de “Punks in the Beerlight”, canção dos Silver Jews. Com as guitarras ao alto e o ruído elétrico a preencher a sala de espetáculos mais bonita da Parede os músicos falam entre e voltam a colocar os instrumentos ao pescoço. A verdadeira última música foi “The Town”, do EP homónimo lançado na véspera de Natal de 2021, e foi com esta sonoridade mais calma que se despediram com um até já.
Foi bonito o concerto à beira-mar dos Cave Story, enérgico e compacto, um pouco como o álbum que foram à Parede apresentar. Perante um público pouco devoto, mas curioso e atento, os “part-time punks” mostraram que estão crescidos, mas não demasiado, e que, apesar das canções mais arranjadas, ainda sabem como fazer bom barulho.
Fotografias: Rui Gato
Alinhamento:
- Hill So White
- Absolute Best
- Dead and Fermenting
- Prime Time
- Clean Summer Clothes
- Punk Academics
- Ice Sandwich
- Richman
- This is Academy
- Critical Mass
- Aching for a Rebel
- Sing Something for Us Now
- Special Diners
- Southern Hype
- Punks in the Beerlight (Cover de Silver Jews)
- The Town