Diogo Montenegro
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Diogo de nome, Montenegro como apelido, intencionalmente confundido por «pontonegro» ou «montepreto» de forma recorrente, teve como maior arrependimento a sua inscrição no IST em 2013; assim, como recompensa, um miminho egoísta, gesticulou um manguito para o prezado instituto, e como maneira de viver engoliu cursos de revisão literária à boca rota e escreveu críticas e reportagens com maior parcimónia no ano lectivo transacto. É inferível portanto, que se passe a vulgaridade, que é um «ser de muitas contradições»: além do ódio a clichés, candidatou-se neste ano escolar a Artes e Humanidades na FLUL e dá explicações de matemática. (Curioso.) É ainda apologista do acordo ortográfico de 1945. Que o ecletismo não se gaste tão cedo. Nem a boa música.

“I’ll Come Running” – Brian Eno

A mestria de Eno, aquela que cerebralmente intelectualiza a pop, desagua por paradoxo nesta irreverência orgânica, de uma pop que verdadeiramente acessibiliza uma música livre por fundamento.

“That’s Not Me” – Skepta

Skepta afiambra-se ao motivo e, por via do cunho assumidíssimo de um fluxo maximalista garrido e vigoroso, distorce-o a seu bel-prazer.

“If I Took Your Hand…” – Fire!

“Anda daí, ouvinte; não tenhas medo”

“Sun King” – The Beatles

Deus nos guarde a balbúcie espontânea de Lennon, conclusiva apenas de uma contemplação inescrutável ao poder da linguagem: que a faixa e seu tema só fariam sentido caso sentido não tivessem.

Playlist da Semana: De um estivaleiro

Aqui se apresenta o “compreensive guide” para um verão de música, ou música de verão, ou como se queira. Há jazz, há hip-hop: há faixas a acompanhar o resfolgar vespertino, o lusco-fusco às 21h e picos, ou pelo menos a memória deles. Bem os hajam.

“Lonely Blue” – King Krule

King Krule espreita da esfera observacional para aplicar o que é agora sua competência; e, para mais, não bastasse a força da espada, King Krule agora é um connaisseur.

Da Weasel – Re-Definições (2004)

Mesmo que carecendo de motivo, o recobrar de um clássico parece pertinente. À parte isso, o que têm F. Scott Fitzgerald, Batatoon e Da Weasel em comum?

“When It Rain” – Danny Brown

“When It Rain” exige atenções, distorce-as, pulula junto delas, feita uma trepidez esquizofrénica.

“Answers Me” – Arthur Russell

Se o virtuosismo de Russell é o do domínio do vazio, “Answers Me” é-lhe a materialização.

“Utopia Overture” – Cristobal Tapia de Veer

O tropicalismo conhece a nervura cosmopolita, dão dois beijinhos, oh, amor à primeira vista.

“All Blues” – Miles Davis

Da mesma maneira que Kind of Blue, o vinil, é o cliché do dia monumental em que Davis deu meia dúzia de indicações e antecipou o crepitar virtuoso, este texto é a impertinência fundamental daquele que ouve e contempla e devora, a última instância de um “eu gosto” visceral, de um abrilhantar de olhos; um canito a abanar a cauda.

Playlist da Semana: Nariz empinado

A playlist alarga-se no espectro que bem lhe entendeu. Há electrónica low-burn, hip-hop, Brian Eno, jazz, aquele pessoal com cabelos desgrenhados e Serge Gainsbourg. É uma playlist muito altiva, muito nariz empinado, muito gira. Compensam-lhe a atitude os malhões de seu direito.

Arthur Russell – World of Echo (1986)

Uma exortação a dignidades retrospectivas; uma deferência a um autor que não foi esquecido, embora por nunca ter sido lembrado, e uma celebração do virtuoso.

“There’s No Other Way” – Blur

Parece haver certo paralelismo inevitável na temporalidade de géneros antipódicos, uma simultaneidade destinada, por um lado que reverbere as qualidades de um dos lados e pelo outro despreze as do restante, e vice-versa. Exemplo paradigmático disso é o extremismo ideológico…

Soft as Snow (But Warm Inside) – My Bloody Valentine

Isto que abre o precedente para o estrépito de Loveless, este Isn’t Anything, não lhe é súbdito, um vassalo de utilidade dispensável. Tem como identitário o pendor para esta dicotomia muito shoegazy, a da dissonância inexorável com a impetuosidade emocional…

She’s Leaving – Orchestral Manoeuvres in the Dark

Uma vez li alguém no Twitter considerando a possibilidade capitulante de Architecture & Morality e seus liricismos. A ideia de quem o escrevia era apropriar um ou outro enunciado de uma ou outra faixa do álbum para epígrafes de teses de pHD ou…

Best to You – Blood Orange

Blood Orange compõe Freetown Sound de roda de um R&B elegante e intrincado, tão necessitado de ritmo como de silêncio, de frenesim vocal como de languidez coral. A própria narrativa do álbum ganha desenvoltura pelo recorrente confronto entre aquela materialidade…

Packt Like Sardines in a Crushd Tin Box – Radiohead

Fora o zeitgeist inusitado de OK Computer e sua intenção descritiva de seus nervosos princípios tecnológicos, achegada para lá a desenvoltura textural de Kid A e sua intenção ensaística meio performativa e meio teórica das terminações existenciais daqueloutro espírito da…