Uma vez li alguém no Twitter considerando a possibilidade capitulante de Architecture & Morality e seus liricismos. A ideia de quem o escrevia era apropriar um ou outro enunciado de uma ou outra faixa do álbum para epígrafes de teses de pHD ou coisa que o valha. Ora, esta informação teria pouca ou nenhuma validade ou pertinência, não fosse o precedente que anuncia, precisamente aquele que confirma a virtualidade de cada verso ou cada título ser uma perífrase de algo mais, uma expressão de sucintez, um minimalismo tendendo para a ampliação. Afinal, a possibilidade capitulante é a figura central do terceiro trabalho de Orchestral Manoeuvres in the Dark. A proeminência dos hinos, consequentes na ambiência que exorta a esta nossa nostalgia, muito notada 30 anos depois, as melodias bonacheironas, com pendor contemplativo, tudo é resultado da sensibilidade pop que descansou o synthpop, que lhe aliviou as tensões e o frenesim e os corropios imprevisíveis do kraut.
Nesta subversão electrónica, por norma é a “Souvenir” que se confere responsabilidades, essa filha da rádio, entrada por saída nas aparelhagens das casas, sem pedir licença senão a do radialista; porém, “She’s Leaving” é um da outra meia dúzia de exemplos imperativos para aqueloutra intenção de A&M. É um momento cinematográfico e uma atitude dreamy encapsulados numa (synth)pop não-lacónica, de sabor estival, é faixa que não quer ser hino, que nada fez para ser hino, e ainda assim o é. Vem-lhe nas palavras volta e meia uma inocência qualquer, assim um terço terna, um terço elegíaca, outro a medo, e dessa susceptibilidade vence o seu vigor. Nos seus bastidores, entretanto e no entanto, como se confrontando o sonho com arcaboiço teórico, acontece a recondução do transcendentalismo Kraftwerk-ish ou Neu!-ish para terrenos mais pacatos: do elogio da tecnologia pela acção humana, vem o elogio da acção humana pela tecnologia; e se houver capítulo para OMitD, terá essa epígrafe.