
Um grupo de amigos bem composto, uma noite amena, uma cerveja antes e, o catalisador desta noite que se adivinhava ser especial, um concerto do grande B Fachada, no Cinema S. Jorge.
A encher o auditório com as primeiras notas musicais da noite esteve Lula Pena. A cantora entrou no palco acompanhada apenas pela sua guitarra e cordas vocais. Sozinha naquele palco tão grande, lançou para a plateia parcas palavras para de seguida ganhar conforto atrás da sua guitarra. A cantora encadeou num dedilhado suave mas intrincado, percorrendo acordes que se posicionavam ao longo de todo o braço da guitarra. As primeiras letras que ouvimos sair da sua boca pertencem ao enorme Zeca Afonso. No S. Jorge, Pena tocou a sua versão de «Quanto é Doce» do álbum Fura-Fura, fazendo depois um medley com músicas suas e de Marina Lima, variando entre o português da terra de Saramago e o português do país de Jorge Amado. A acompanhar o seu domínio irrepreensível das palavras, Lula capta ainda mais os sentidos através dos arpejos que vai extraindo da sua guitarra, bem como os ritmos que advém dos seus toques com os dedos na madeira do instrumento. Durante o concerto pudemos ouvir modas alentejanas, modas da ilha Terceira e ainda Castelhano, Francês e Inglês.
Depois de ter encantado com a sua voz e mestria na guitarra, Lula é saudada com fortes aplausos, mas o maior aplauso foi ouvido quando convidou para palco B Fachada, o homem da noite. Fachada avançou até ao seu teclado e, depois de uma troca de palavras com Lula e de afinarem a guitarra em conjunto, tocaram parte do «Acto I» de Troubador, assumindo Fachada as teclas e os coros, deixando Lula guiar a audiência através da sua última música.
Lula sai de cena e era chegada a hora do concerto de B Fachada que deu desde logo o mote para a noite: ia ser um concerto cheio de samples e ritmos de dança. Ao longo da hora e vinte que se seguiria, Bernardo revisitaria músicas de seis dos seus discos, dando principalmente ênfase às músicas do registo que lançou este ano.
Atrás dos seus teclados, Fachada ia fazendo a festa, oscilando sobre os seus joelhos, enquanto tocava os temas mais dançáveis e assumindo uma posição mais hirta aquando as composições assim o pediam. Um desses momentos foi quando foi interpretada uma das melhores canções já composta por Bernardo Fachada: «Não Pratico Habilidades», que juntou em coro aqueles que viam o artista a expor-se em palco, confessando as suas falhas e o seu desejo de aperfeiçoamento.
O momento intimista não durou muito. Após terminada a canção entrou o sample de «Um Fandango Ensaiadinho», com um prego ainda durante a introdução. Depois de uma careta e de um pedido desculpa, Fachada continuou o tema, dançando em palco, enquanto a audiência se agitava nas suas respectivas cadeiras sem nunca perder de vista quem estava a tocar! Entre palhaçadas, graças, uma tarrachinha a solo e as músicas que tão bem conhecemos, o concerto prosseguiu, acabando com «Já o Tempo se Habitua», versão Fachada.
O artista saiu de palco enquanto era alvo de um ovação em pé! A audiência não se retirou e esperou ansiosamente pelo regresso de Fachada. Voltando com um tímido «Olá!» e um sorriso de orelha a orelha, Fachada voltou para tocar «Só te Falta Seres Mulher», com refrão acompanhado por um coro fraco na afinação, mas muito forte no sentimento e que levou B Fachada a limpar uma lágrima imaginária da cara. Houve ainda tempo para deixar uns avisos ao «Tó Zé» e depois sim, o final do concerto. Mas quem se deslocou ao S. Jorge nesta noite não arredava pé e Fachada, anuiu à indirecta, voltando para cantar na sua língua paternal, o Fachadês.
Chegou então a malograda hora de ir embora, deixando uma ânsia pela próxima vez em que possamos ver um concerto deste cançonetista que é já tão nosso!
Alinhamento B Fachada:
Afro-Xula
Dá Mais Música à Bófia
Não Pratico Habilidades
Fandango Ensaiadinho
Camuflado
Quem Quer Fumar com o B Fachada
Crus
Pifarinho
É Normal
Já o Tempo se Habitua
Encore:
Só Te Falta Seres Mulher
Tó Zé
Encore 2:
Deus, Pátria e Família
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Fotos: Alexandre R. Malhado