Parece haver certo paralelismo inevitável na temporalidade de géneros antipódicos, uma simultaneidade destinada, por um lado que reverbere as qualidades de um dos lados e pelo outro despreze as do restante, e vice-versa. Exemplo paradigmático disso é o extremismo ideológico do grunge americano em contraste com a britpop, claramente britânico: de um lado, o pastiche assumido de Kurt Cobain, em reverberações pixianas, o então-ainda-não lugar-comum da guitarrona arranhada do cinismo, o hino maledicente quanto à geração que mais tarde veio a apropriar-se daquele, enfim, a música-choque da geração X; do outro, a quirkiness pubescente de Pulp, que progressivamente, segundo a cronologia etária, descamba para o lad-rock de Blur, de que é exemplo “There’s No Other Way”.
O contraponto do além-Atlântico destaca-se na postura deste single de Leisure, seja pelo rácio vigor/abananço-de-traseiro cuidadosamente calculado, a guitarrinha meandrosa e volátil e contagiosa, as orelhonas desta canção!, o coro, o refrão readymade para caves londrinas e pints a dar com pau umas contra as outras. São coisas como estas que geram a atitude da banda e a sua subsequente condição e bom-estado nos baluartes da cultura pop; com certeza, as imagens gingonas de Albarn & Co. nos gigs são as coisas de que a gente se lembra quando pensa neles. Nisso e na embriaguez dos malhões. Como este.