Em álbum que se recosta in no man’s land de qualquer binómio que se lhe queira atribuir, que não se exalta nem se sossega, de sonoridade tanto reconfortante na sua familiaridade quanto extravagante na sua uncanniness, num universo simultaneamente de um surrealismo estrangeiro e de uma providência autóctone, “I’ll Come Running” jamais se descreverá indecisa. Antes pelo contrário: parte de um equilíbrio inabalável, filtrado pela ingenuidade deliciosa do motivo diegético, absurdo no fio condutor, e celebra-se pela postura bubbly, pelo tom — à semelhança de “Sun King” —, pelo êxtase comedido dos back vocals prazenteiros, o piano solto, o traço sinusoidal bonacheirão do baixo e da melodia. É solene, a elegância, e sobe, e desce, e vai para um lado, e para outro, diagonal, mexe-se num à-vontade irredutível, corre por campos de girassóis, tudo. A mestria de Eno, aquela que cerebralmente intelectualiza a pop, desagua por paradoxo nesta irreverência orgânica, de uma pop que verdadeiramente acessibiliza uma música livre por fundamento. Não há espaço que restrinja coisa alguma neste alvoroço consonante, espreitando detrás de uma faux neutralidade. A inocência e a curiosidade soltam-se, assenhoram-se dos elementos: o resultado é uma espécie de fascínio pueril, transversal ao álbum e transversal aos ouvintes, volvidos ao espanto da infância. Não há quem se marginalize de tal coisa; e este, suponho eu, será o cunho da intemporalidade, da permanência: do clássico.