Fora o zeitgeist inusitado de OK Computer e sua intenção descritiva de seus nervosos princípios tecnológicos, achegada para lá a desenvoltura textural de Kid A e sua intenção ensaística meio performativa e meio teórica das terminações existenciais daqueloutro espírito da época, lá vem Amnesiac. Enquanto consequência cronológica, é um adensar daquela progressão interior, que começara, celebrando-o enquanto o suspeitava, no transístor — e viera para um desespero discutivelmente pós-humano — e culminou em certa esquizofrenia, certa intangibilidade; enquanto álbum, é uma espiral recessiva que parte da constante lembrança dos Radiohead para o desassossego, para o receio pautado pelo pânico, embora permanentemente lembrada também de anuência, consentimento, como se esta tensão desse por combustível.
Toda a problemática é delineada em cuidados ao longo de “Packt Like Sardines in a Crushd Tin Box”. A começar pelo início, pela própria denominação da faixa, cuja imagética remete para um constrangimento claustrofóbico; seguido depois pela imiscibilidade dos ritmos, li eu por aí que binários ou quaternários ou o diabo a quatro, que desemboca em meia dúzia de tempos, cujo motivo cristaliza a tensão e a instabilidade adiante tornada identidade de Amnesiac; aponta-se a recorrência dos samples, a automatização da narrativa, os interlúdios de herança kraut; e “I’m a reasonable man, get off my case”, em pronúncia hermética, num mecanismo quase monótono, apresentando-se não só enquanto reminder constante de que há quem o julgue não-razoável como também enquanto aparente meio de autopersuasão, diz-se que a mentira repetida torna verdade. Alienação será o termo, independentemente da sua banalização, daquilo encapsula a faixa, uma faixa estranhada, a meio caminho entre algo cerebral e algo impulsivo, cuja própria concepção lhe impõe uma distância de segurança perante o público demais. Quanto mais salienta aquela progressão interior, mais isola.