Entrámos na savana. Primeiro o suspense, depois a carga do pantanal electrónico que nos deixou lá como mensageiros da alma. Sussurram os espíritos e um em especial: Nicolas Jaar, que explora com os Darkside aquela que é, provavelmente, a melhor vertente do espaço electro.
É nessa ambiência selvática que “Golden Arrow” inicia o guião do thriller que a banda sonora cria. Este é um projecto negro, já traçado pelo nome, e carregado pela voz, que surge de quando em quando, e que aí se cruza com as batidas menos clássicas e os sons mais experimentais. Passos, palmas, espanta-espíritos, relógios, gravações de vozes, ruídos, sons alienígenas. Tudo se envolve com a complexa electrónica que ali se gera com um formato multi-instrumentista. É Dave Harrington que garante esta parte e que nos traz acordes ora suaves, ora poderosos, como ouvimos em “Heart” ou “Paper Trails”, um dos temas mais badalados do álbum. Mas este, na verdade, é um tema mais “fácil” – de gostar, não de fazer – mas que funde na perfeição a voz, os instrumentos e a distorção. Mas se procuram o melhor representante do álbum, no auge da sua intensidade, esse é “Greek Light”, a penúltima música do álbum, que termina com “Metatron”, um tema smooth, sensual e alegre.
E assim se vão agitando os corpos mais imóveis. Até os mais solenes cumpridores de horários, pregados à cadeira, trabalham em duas realidades paralelas. Ou mais, tendo em conta o faseamento do álbum entre a paranoia musical, a agitação dos corpos e a barafunda emocional.
Fora do que é convencional, é preciso ouvir o álbum de Darkside para se compreender a maratona de emoções que se sucedem até ao desfecho de Psychic.