Quem não conhece Arthur Brown nunca poderá imaginar o perfeito louco que foi (é) esta personagem do rock inglês. Um tipo muito à frente do seu tempo e que influenciou gerações vindouras, nomeadamente Alice Cooper, Bruce Dickinson ou Marilyn Manson, já para não falar de toda a génese dos Kiss.
Em 1968 ainda o Homem não tinha chegado à lua, em Portugal vivia-se a suposta euforia da Primavera Marcelista, o Benfica perdia a sua terceira final da Taça dos Campeões Europeus. Enquanto isso, em Inglaterra os Beatles lançavam o Álbum Branco e os Pink Floyd davam os primeiros passos. Nesta azáfama mundial, há um nome que revolucionou o mundo da música em várias vertentes e que hoje em dia lhe é prestado pouco crédito. Arthur Brown, um dos primeiros loucos do rock n’ roll, meteu o mundo “on fire”, literalmente.
Arthur Brown, nascido em 1942 em Inglaterra, estudioso de Filosofia e Direito, cedo percebeu que a sua alma ardia noutros campos que não nos livros ou tribunais mas sim na música e nos teatros. E é em Paris, em 1966, que Brown começa a dar os primeiros passos para o fabuloso e louco mundo da representação na sua música. De volta à sua Inglaterra fez parte do grupo Ska/Soul, The Ramong Sound, que pouco depois de Brown ter partido se tornou no conjunto soul de referência, The Foundations.
Nessa altura já Arthur Brown tinha formado a sua própria banda, The Crazy World of Arthur Brown, e que mundo louco criou o inglês.
A sua reputação começou aquando do festival de Windsor em 1967 onde Brown utilizou pela primeira vez o seu famoso capacete de metal em chamas, porém algo correu mal e não fosse a pronta intervenção de duas pessoas despejando latas de cerveja na cabeça de Brown apagando o fogo, talvez hoje Brown fosse um idoso careca cheio de cicatrizes. Porém a sorte estava do seu lado e o capacete flamejante passou a ser para sempre a sua imagem de marca. Isso e a sua cara pintada, normalmente de preto e branco, que acabaria por influenciar dramaticamente os Kiss.
E se o espectáculo dado em cima de palco era completamente sui generis e insano – pois Brown não se contentava com o seu capacete flamejante mas sim com o palco todo em chamas, o que lhe custou a expulsão de alguns festivais por alguns promotores temerem pela segurança dos seus eventos – A sua música reflectia exactamente esta loucura. Com uma boa dose de psicadelismo já a resvalar para o metal ou rock gótico, com semelhanças a Captain Beefheart aqui e ali, The Crazy World of Arthur Brown passou quase como um alien neste final dos anos 60, quase como um disco fora do seu tempo, especialmente por causa do seu hit “Fire” que tem uma das frase de abertura mais potentes do rock: “I am the God of Hellfire and I bring you FIRE”. No entanto, apesar deste ar cáustico, das frases duras, da variação entre voz grave e muito aguda e das encenações maquiavélicas, Arthur Brown bebeu muito da soul e do blues e o seu disco é como que uma passagem de testemunhos entre os vários estilos musicais e que irá culminar em bandas como os Sabbath, Alice Cooper, entre outras.
O mundo louco de Arthur Brown nunca mais teve a força e misticismo deixados pelo seu primeiro disco mas o seu lugar na história da música ninguém o tira.