Ano após ano o Jazz em Agosto consegue sempre, mas sempre surpreender os mais incautos, que vão a pensar que vão ver um mero concerto de jazz. Não desvalorizando, claro, com aquele “mero” na frase ali atrás, o que é facto é que é a opção assumida de trazer ao festival actos de vanguarda, bandas/autores que esticam a corda e testam os extremos da música, é uma pedrada no charco.
Os Young Mothers são a mais pura demonstração do que é viver no século XXI – uma miscelânia de influências que podem conviver, mostrando que todos beneficiam em ir buscar elementos a culturas que nos são estranhas à partida. Basta olhar para o alinhamento da banda, o mentor é um contrabaixista norueguês Ingebrigt Håker Flaten que ao mudar-se para Austin em 2009 fundou a banda, trazendo com ele o baterista, e aos quais se juntaram um saxofonista de som cheio de alma com influências de afrobeat, um guitarrista normalmente mais virado para o punk, surf rock e livre improvisação, e um vocalista/ trompetista / preparador de máquina de ritmos inesgotável e a quem se deve parte da responsabilidade pelo despertar do interesse do contrabaixista pelo hip-hop. Para completar o ramalhete o responsável pelo vibrafone e por vezes segundo baterista é claramente influenciado por metal e grindcore.
Dito isto, um cenário que pareceria à partida caótico transformou-se rapidamente numa interessantíssimo diálogo à boa moda jazzística entre todas estas partes, criando harmonia por vezes, tensão por outras. O espaço dado à improvisação foi importante para mostrar o que cada um vale por si, mas a junção das várias peças do puzzle mostrou-se mais forte, um exemplo claro de que o resultado final é superior à soma das partes. Todo e qualquer espectador saiu saciado pela descoberta desta banda, que acabou ovacionada e ainda proporcionou dois encores. É mesmo daqueles concertos que nos deixa pensar como erradas estão as coisas quando a atenção dada a actos originais como este estão condenados a viver nas franjas.
Valendo o que vale, não resisto a deixar um vídeo de uma performance antiga da banda. Para dar pelo menos um cheirinho.