E pronto. Que querem que vos diga? Que os Pixies, a melhor coisa deste universo ali entre o final dos anos 80 e o aparecimento do grunge, voltaram melhores do que nunca? De que parece que o tempo nunca passou? Gostava de poder dizer isso. Mas seria mentira. O regresso dos Pixies, neste ano da graça de 2014, com este Indie Cindy, vem, infelizmente, rodeado de incertezas, questões e equívocos. Porquê o regresso, agora? Porque regressam para, finalmente e depois de tanta espera, perderem um membro fundamental como Kim Deal, que de alguma forma tinha conseguido manter-se na banda mesmo com esta em hibernação? Se é para voltar, para quê editar dois EP e só depois um álbum que, na prática, mais não é que esses dois EP mais umas quatro músicas? E, acima disso tudo: para quê tudo, se o resultado é este? No fundo, tudo se resume a duas coisas: à nostalgia – de que me confesso culpado – e à qualidade da música. Tão óptimos foram os 4,5 discos da primeira (talvez única) vida dos Pixies que, estúpida mas algo compreensivelmente, passei o resto da vida a acompanhar as movimentações não apenas da banda mas também dos outros projectos dos seus membros. Sempre em busca desse primordial ‘rush’, essa sensação, esse som adolescente marado que os Pixies sempre souberam fazer. Acontece que nem eu nem os Pixies somos mais adolescentes. E, mesmo que eu queira ouvir esse som, parece que os Pixies já não o sabem fazer. O que temos nesta colecção de 12 músicas, no fundo, são os Pixies tentando desesperadamente soar a eles próprios, e falhando. Podiam ter feito uma série de coisas, inclusivamente adocicado o seu som de forma torná-lo mais comercial, etc. Mas a questão não foi essa. Os Pixies – melhor, o Frank Black – não está desesperado para ter sucesso: está é desesperado por encontrar o mapa do som Pixies, que não revisitou durante 20 anos. Nesse período, editou mais de 15 discos a solo – quase todos excelentes – mas não compôs nada para os Pixies. E agora, que o tenta fazer, a coisa não sai. É demasiado “Pixies para tótós”, na forma como estão lá todos os clichés de uma banda que inventou o indie/pop/rock como o conhecemos (juntamente com os Pavement, é justo reconhecer). O problema não é a falta de surpresa no som; eu não quereria um disco dos Pixies a soar a electrónica ou rock industrial. O problema está na qualidade: as músicas não são muito boas, quando comparadas com os restantes discos da banda. Indie Cindy não está entre os melhores discos dos Pixies; pior, não está entre os melhores 15 trabalhos de Frank Black, mesmo se incluirmos Pixies, ele a solo e os simpáticos Grand Duchy (Black mais a talentosa esposa Violet Clark). Este novo material serve então para quê? Para que a Pitchfork ganhe um novo ódio-fetiche (deu uma inédita nota mínima ao primeiro EP do regresso da banda); para que os Pixies tenham material fresco para levar em mais uma digressão à volta do mundo; e para que estas novas músicas e a saída de Deal continuem a alimentar histórias na imprensa que mantenham a banda no olho da opinião pública. Duas notas finais: a) que não se fique a achar, por este texto, que Indie Cindy é um disco terrível. Não é sequer um mau disco e é mesmo melhor do que muita treta que anda por aí nos tops indie rock. Mas é irrelevante e desinspirado, duas coisas que os Pixies nunca foram. b) quem tem saudades do som da banda, ficaria mais bem servido revisitando os discos a solo de Frank Black. O mundo ignora-o olimpicamente, mas é aí que está muito do seu melhor trabalho. Aqui ficam algumas sugestões de discos tremendos: Teenager of the year, Dog in the Sand, The cult of Ray e Black letter days, entre muitos, muitos outros.
Pixies – Indie Cindy (2014)

Tiago Freire
O autor deste texto tem 39 anos mas um corpinho de 35. É jornalista há mais de 15 anos. É colaborador de vários blogs e parvoíces afins e já escreveu para a Blitz e para a FHM. Nasceu e cresceu em Carcavelos, fazendo aí o mestrado musical enquanto todos os seus amigos andavam de skate ou faziam surf. Hoje em dia, divide o seu tempo entre as notícias de Economia e a educação dos seus três filhos, enquanto o mundo não percebe que ele é o maior escritor vivo do planeta, coisa que terá inevitavelmente de acontecer. Na próxima encarnação desejaria ser uma mistura entre o Serge Gainsbourg e o Pablo Aimar.
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