Ruby Blue é o primeiro álbum a solo de Róisín Murphy, que conhecemos primeiramente como a vocalista dos Moloko. Este álbum surgiu em 2005 e, com um cunho bem mais pessoal, distingue-se, na minha opinião, da electrónica louca e saudável com que Róisín nos brindou através dos Moloko. Com isto não quero dizer que o seu trabalho a solo é modesto em termos comparativos, antes pelo contrário. Diria até que surge numa nova ambição da artista, de algo que lhe é íntimo e que vem marcar o fim dos Moloko, a par do seu relacionamento com Mark Brydon.
Este álbum foi escrito e produzido com Matthew Herbert, um músico da electrónica Britânica. Apesar de já ter referido duas vezes a palavra “electrónica” neste texto (e ainda no segundo parágrafo), na realidade, quem ouve as primeiras 3 faixas do álbum pensa que a electrónica associada à dança desgarrada também sofreu um desgosto amoroso e não foi convidada para o primeiro álbum a solo de Róisín Murphy. No entanto, a música que empresta o nome ao álbum e que surge em quarto lugar já começa a dar um ar de uma maior graça, uma maior animação e uma maior vontade de dançar qualquer coisinha, vá.
De facto, se esperam por um álbum altamente dançável, a par dos anteriores, de Moloko, não é isso que aqui temos, embora não fuja muito à sua linha de electrónica mais soft e mais ligada aos arranjos do que ao quociente de dança. Sim, é possível fazer uns passinhos de dança, abanar um bocadinho a anca, mas nada que nos leve a deslocar perigosamente a bacia como em “Forever More”, do álbum Statues.
De facto, se vamos falar de electrónica Britânica, a dinâmica é um pouco diferente da de Moloko ou deste trabalho a solo de Róisín. Podemos referir algo mais “sonoro”, vivo ou mexido. Mas, como vivemos num mundo de estereótipos e parece que tem de estar tudo organizado e catalogado, quiseram os experts que isto fosse tudo considerado de electrónica. É claro que existem depois sub-grupos, tal como antigamente, quando se descobriam as espécies animais. Só falta que os tipos de música sejam referidos em latim para dar um ar mais geek, tipo postis punkus. Sim, apanharam-me, não percebo nada de tipos de música nem sei distinguir o soft-punk do acid-não-sei-quê, pois quis a vida que eu gostasse de ouvir música e deixasse os estudos para outras áreas da humanidade.
Avançando no álbum, não existem muitas referências que possa fazer a músicas específicas. É um álbum que se ouve bem, tanto de música de fundo enquanto se faz o jantar ou se trabalha no computador, como para pôr bem alto e dar umas sacudidelas ao esqueleto enquanto se limpa o pó. Com isto não quero dizer que este é álbum para donas de casa, mas que cai bem, lá isso… E afinal de contas, se queremos limpar a casa em segurança, até convém não pôr nada demasiado mexido, senão é osso deslocado na certa.
Destaco “Night of the Dancing Flame” como a música talvez mais evidente em termos de arranjos e que fica na memória pela letra e pela musicalidade. No entanto, é mesmo um álbum que considero que deve ser ouvido num continuum, do início ao fim, sendo que não existe uma ou outra música que se destaque mais ou que se diferencie muito das outras. O salto dá-se, efectivamente para o segundo álbum, Overpowered, de 2007 e esse fica para a próxima.