Mac DeMarco é um multi-instrumentista canadiano que já anda por cá há alguns anos. Nascido em Duncan, o músico foi criado em Edmonton e, depois de terminar o ensino secundário, viveu em Vancouver e Montreal, tendo-se fixado em Nova Iorque no verão de 2013. Antes de se dar a conhecer pelo próprio nome, fez alguns lançamentos sobre o nome de Makeout Videotape. O álbum 2 foi lançado pela editora Captured Tracks, que possui no seu catálogo artistas como DIIV, Beach Fossils, Wild Nothing, entre outros.
Para quem já conhecia este rapaz de outras andanças (leia-se: EP de estreia Rock and Roll Nightclub), o “choque” com um Mac DeMarco desprovido da sonoridade glam/lo-fi que envolvia esse primeiro registo e com um cantor a assumir a sua voz (sem necessidade de a disfarçar com um timbre que não é o seu) poderá levar a alguma surpresa por parte do ouvinte. Mas prepare-se, o que aí vem é bom.
O álbum abre com “Cooking Up Something Good”, que nos fala da dependência de drogas do pai de Mac. Parecendo um tema pesado, o artista consegue, com a sua aparente calma e com um riff bastante catchy, criar uma música boa para abrir o álbum; e assim segue a música, com “Dreaming” a aparecer com uns acordes e umas linhas de guitarra bastante dignas do nome. A paixão, quer seja ela falhada ou bem-sucedida, é um tema mais ou menos recorrente em 2. Soa a lamechice, mas a maneira como Mac o faz, torna estas músicas na banda sonora perfeita para um dia de outono. No seguimento do sonho surge a realidade: o músico a pedir desculpa à mãe por se ter portado mal (outra vez). É esta a história que nos conta “Freaking Out the Neighborhood”. Nesta música encontramos do melhor que há em Mac: uma bateria e um baixo simples, mas muito ritmados e uma linha de guitarra que nos deixa agarrados à melodia do primeiro ao último instante.
Após “Annie” e sensivelmente 12 minutos após o início de 2, é chegada a vez de “Ode to Viceroy”, que é para mim, a par de “Freaking Out the Neighborhood”, a melhor faixa deste álbum. O início é marcado por acordes que se desembrulham num estilo let it ring que, com a tristeza com que se fazem soar, deixam transparecer o que se segue: um pedido de desculpas. A quem? À marca de tabaco preferida do cantor, Viceroy, traída por ele com outra marca, numa relação de uma só noite. Não conseguindo disfarçar a culpa, Mac escreveu a ode onde recorda aos cigarros o melhor da sua relação e lhes pede para pararem de “chorar”, prometendo fumá-los até morrer. Depois de alguns gritos (numa espécie de choro de arrependimento) e de implorar com todo o ar que tem nos pulmões “come on now baby”, é reatada a relação.
Passando à frente umas quantas canções, é-nos apresentada a belíssima balada “My Kind of Woman”; com toda a beleza que tanto a secção instrumental como a secção lírica proporcionam, o artista faz com que a música se desvincule dos preconceitos normalmente associados a este tipo de canção (balada = lamechas), criando mais uma excelente música. Ao fim de 28 minutos (e quase sem darmos por isso!), é chegada a última canção deste 2, “Still Together”. É, como o cantor faz questão de frisar em todos os concertos, dedicada à sua querida Kiera (e a todos os casais por esse mundo fora, atrevo-me a dizer). É uma bela declaração de amor, na qual somos confrontados com um Mac DeMarco de coração aberto, a expor à sua amada aquilo que sente. Com um refrão cantado à la “The Lion Sleeps Tonight”, esta canção (acústica, é claro) não poderia ter sido melhor escolhida para encerrar o álbum de estreia de Mac.
Numa análise pós-audição, é fácil qualquer um aperceber-se de que DeMarco, tendo grandes capacidades enquanto escritor, é acima de tudo um criador. Indo buscar o essencial às suas influências (que vão desde Beatles a Cleaners from Venus), o músico consegue aproveitar estas bases para se apoiar e ainda, com bastante “à vontade”, desenvolver um estilo muito próprio e com marcas muito características.