Fui atraído pelo exótico nome da banda, e ainda bem que assim aconteceu. O primeiro disco que comprei e ouvi dos Gorky’s Zygotic Mynci foi, curiosamente, o último da carreira do grupo. Comprei-o há cerca de 10 anos, e nunca mais me largou os ouvidos. Para além da já referida atração pela designação do grupo galês, a capa de Sleep / Holiday também me cativou, confesso. Para quem ama os discos como eu amo, para quem venera a música como eu venero, estes fenómenos de aproximação (nomes e capas, por exemplo) não serão, de todo, uma coisa bizarra. Estou certo disso, e na verdade, sou também o exemplo de que por vezes o resultado desse tipo de abordagem pode ser desastroso. Como já se percebeu, este não foi o caso, e o meu entusiasmo pelos trabalhos dos Gorky’s Zygotic Mynci (digam lá que o nome não é delicioso!) foi crescendo em volume (tenho quase todos os discos da banda), mas nem tanto em termos de apreço, se comparável ao que tenho por Sleep / Holiday. Apesar da generalidade da crítica apontar como melhores os discos Bwyd Time, Barafundle, Spanish Dance Troupe e How I Long To Feel That Summer In My Heart eu continuo a preferir aquele que foi, como já referi, o canto de cisne do grupo liderado pelo grande e talentoso Euros Childs. Em relação a todos os outros álbuns da banda, a qualidade é inegável, e por isso vale bem a pena apostar igualmente neles.
Sleep / Holiday é um disco tranquilo, quase dolente, e é fácil imaginar-me feliz com ele, ouvindo-o num qualquer fim de tarde de frio outonal. Talvez por esse ser o sentimento geral do disco, a canção de abertura dá pelo nome de “Waking For Winter”. Aliás, uma única canção rompe com essa atmosfera de serenidade. Chama-se “Mow The Lawn” (metáfora de cortar o cabelo) e serviu de apresentação do disco (falsa, na minha opinião, por ser equívoca em relação à generalidade sonora da obra). A minha favorita é “Single To Fairwater”, um dos melhores temas que a banda alguma vez compôs, com a particularidade do sujeito lírico assumir uma sofrida voz feminina. Termina assim: “And all of my boyfriends / Well I hate you the most / To look in your eyes / You’re a fucking disgrace, disgrace.” O som quase atmosférico confere ao disco uma imensa melancolia, mas também uma inusitada beleza. Para mim é quase terapêutico este Sleep / Holiday. A envolvência das violas, os momentos gizados ao som dos violinos, as harmónicas, mas sobretudo a voz de Euros Childs, sempre tão terna e triste, fazem-me bem e elevam-me o espírito. Para além das canções já mencionadas, outras há que nos arrastam para um conforto íntimo difícil de explicar. Basta ouvir “Hapiness”, “Shorelight”, “South of France”, “Leave My Dreaming” e “Red Rocks” para que a paz reine na cabeça mais desassossegada.
Os Gorky’s Zygotic Mynci terão sido, atrevo-me a dizer, a última grande banda nascida no País de Gales, apesar de também terem vindo de lá, por exemplo, os Super Fury Animals, de quem eu tanto gosto. Mas os Gorky’s têm um encanto particular, pelo menos para mim. Começaram repletos de tiques psicadélicos, e suavizaram-nos com o passar do tempo, adocicando um pouco a sua linguagem musical. Não perderam, no entanto, a irreverência dos trabalhos iniciais, mas desaceleraram e amadureceram, e contrariamente ao que se poderia julgar, isso beneficiou-os. Sleep / Holiday é, já se disse, o seu derradeiro manifesto, súmula de aprendizagens de um percurso de uma década e meia dedicada à produção de boa música. Pena que nunca tenham tido o devido reconhecimento, mas aqui no Altamont não deixamos que caiam no esquecimento todos aqueles que nos deram muito mais do que o pouco que tentamos retribuir nestes textos. É quase uma questão de honra! Os Gorky’s Zygotic Mynci são tão grandes agora como sempre foram. Por isso a escolha é sua. Ignore-os, ou idolatre-os. Mas ouça-os, e pode muito bem começar por este Sleep / Holiday, invertendo a cronologia dos discos e das canções, exatamente como aconteceu comigo.