As frases repetidas à exaustão, engolidas pelos sintetizadores, que crescem e envolvem a vontade de saltar de coração cheio, nas composições desta pequena banda de Baltimore têm tendência a criar confusões: as palavras chocam umas contra as outras, as sílabas fundem-se, a mensagem altera-se. E talvez o exemplo mais gritante desta imagem de marca que acompanha os quatro excêntricos americanos possa ser encontrado na faixa “For Reverend Green”, do disco Strawberry Jam, lançado em 2007. Avey Tare, braço direito do chefe de tribo Panda Bear, revela-se um diamante em bruto: contrasta de forma explosiva com os coros bem-comportados de Noah (Panda Bear) com os seus uivos berrantes e catárticos.
Está-se nas tintas para a perfeição vocal: e nós também. O que nos faz o peito tremer ao ouvir Avey debruçado sobre o microfone é a sua imperfeição de criança de mãos abertas para o mundo, uma inocência distinta e furiosa difícil de encontrar em mais lado algum. E a confusão surge precisamente do título: quando a melodia se aproxima do seu final, Avey berra com alma, repetidamente, parecendo que só cessará a sua voz quando esta se esgotar – “for reverend green, for reverend green, for reverend green.” E, à medida que a frase toma sobre si mesma vezes sem conta nos gritos guturais de Avey Tare, cada vez menos parece uma ode a um misterioso reverendo e mais um anúncio gritante do que virá a seguir – “forever and green, forever and green”. É a queda inevitável na vida adulta, tão cinzenta e igual, cheia de seriedade e obrigações que roubam dos bolsos ideias de criança e fantasia. E é contra essa queda, com a força de mil exércitos, que estes quatro excêntricos lutam e da qual nos salvam ao último momento.