Ao terceiro disco de originais, os Império Pacífico elevam a sua música, que está mais melódica do que nunca; o género continua a ser o eletrónico, mas as faixas humanizam-se.
O conjunto eletrónico português Império Pacífico propõe-se a alcançar um destino esperançoso: a dança idílica — e alcança-o com sucesso com o mais recente LP, Club Hits, de capa azul e branca, porque este é um álbum do verão, e que pertence aos fins de tarde elétricos, suportados por copos gelados e leves.

Contudo, o destino já tinha sido alcançado com lançamentos anteriores. Em 2021, Flagship — ainda que, hoje, seja percecionado como um trabalho menos arrumado, se comparado com o maduro Club Hits —, já tinha conduzido os seus ouvintes a oníricas planícies urbanas, cultivadas com suaves faixas eletrónicas, sobre as quais as pessoas puderam, então, dançar livremente.
Ainda assim, o som de Club Hits é mais excitante, o que demonstra o crescimento, até agora exponencial, do conjunto sadino, formado por trash CAN e funcionário. Ao terceiro disco de originais, os Império Pacífico elevam a sua música, que está mais melódica do que nunca; o género continua a ser o eletrónico, mas as faixas humanizam-se. É o que indica a participação vocal de Panda Bear em “Aftershow”, que é, certamente, a canção superior em Club Hits, por dispor de uma sonoridade intensamente melancólica. É um erro prestar demasiada atenção ao membro cofundador dos Animal Collective, porém; Club Hits pertence apenas à destreza criativa dos Império Pacífico.
Os oito temas que formam o álbum estão perfeitamente encadeados; existe um respeito bem audível entre cada faixa — a passagem de “132 Hit” para “Esplanada Drop” é ténue o suficiente ao ponto de não ser identificada pelo ouvinte mais distraído, por exemplo. No entanto, este respeito não proíbe o surgimento de experiências sonoras, oriundas de localizações mais exóticas: “Copos” e “Sunset Blvd (90’s Spin)”, que até fazem lembrar certos períodos dos também marítimos e portugueses Sensible Soccers, são os momentos mais coloridos de Club Hits.
O álbum termina com uma confirmação (“Waking Up After a Night Out”): há muito groove nas “batidas ásperas e [n]os sintetizadores apaziguadores” desta dupla, que, apesar de ser portuguesa e carregar, sobretudo inspirações nacionais, fala uma língua que o mundo inteiro compreende, porque o planeta não é mais do que uma bola de espelhos. Azul. Branca.