De manhã estava frio, ao início da tarde começou a chover e lá para as quatro da tarde o céu abriu de novo – Este foi o boletim meteorológico do dia em que fomos entrevistar Alexandre Monteiro, o cabecilha por detrás do projeto The Weatherman. Com um álbum novo lançado há pouco tempo, Alex começa a preparar um regresso em força ,com participações de renome e concertos pela Europa.
Frio, depois chuva, depois sol: perante um caso tão agressivo em termos de condições atmosféricas como este, fomos sem dúvida falar com a pessoa certa. Passemos então à nossa conversa. Obrigado Weatherman.
Altamont: Antes de mais, para aqueles mais distraídos, explica-nos mais ou menos o que é o projeto Weatherman.
The Weatherman: O The Weatherman surgiu em 2006, na altura em que lancei o meu primeiro disco, o Cruisin’ Alaska. Nessa altura foi um disco em que eu dei tudo, tivemos imensos concertos, inclusivamente toquei no Super Bock Super Rock. Acho que foi um disco muito bem recebido na altura, foi alta surpresa… não sei se vocês se lembram ou não (risos).
Mas e a tua ligação com a música nasce de onde?
Eu praticamente desde que me lembro que sempre tive uma relação muito profunda com a música: os meus pais puseram-me logo numa escola de música quando era pequenino, tinha uns cinco ou seis anos, e isso foi importante porque havia um coro da escola que,de vez em quando, dava uns concertos e isso teve grande importância para mim, como podes imaginar. Depois comecei a compor por volta dos doze anos: na altura apaixonei-me pelos Beatles e comprei o livro com os acordes todos das músicas, só que como era um bocado preguiçoso e ainda não tinha a voz suficientemente desenvolvida para cantar a maior parte das músicas eu resolvi que era mais fácil compor as minhas.
E por que Weatherman?
Não há nenhuma razão assim de muito especial, por um lado achava incrível como é que este nome ainda não tinha sido usado, e por outro achei também que assentava que nem uma luva no estilo de compositor que eu sou.
Então já que falamos de “Homens-do-tempo”, qual é a tua previsão meteorológica para o futuro da música portuguesa?
Eu gostava que a música portuguesa finamente conseguisse vender bem a ela própria, especialmente para o exterior. Acho que musicalmente até estamos muito à frente, se compararmos com outros países. Artisticamente estamos muito adiantados mesmo. Só acho que faltam existir os canais certos para conseguir solidificar esse potencial, dar oportunidade para que cresçam mais “lá fora”, por exemplo. De certa forma globalizar a música portuguesa com as bases sólidas que ainda precisa.
Mas concordas que estamos, como muitos dizem, perante uma curva ascendente no que toca à produção musical nacional? Que o músico português está a ganhar mais relevo?
Sim, sim, mas isso mais ao nível da world music, com o fado, por exemplo. Mas no que toca à música pop há um certo caminho ainda por percorrer e para isso acontecer, na minha visão da coisa, as pessoas da indústria têm que se juntar mais, partilhar mais aquilo que conseguem fazer. Às vezes tenho a impressão de que cada vez mais o pessoal entra naquelas quezílias do género “Ah o meu quintal é maior que o teu” e isso.
Ia-te perguntar também sobre influências musicais, sei que já falaste nos Beatles, mas que outras bandas ou artistas achas que marcam o teu estilo/música?
Eu acho que o meu coração musical está ali entre o final dos anos 60 e o início dos 70. Posso enumerar alguns discos dos Beach Boys, por exemplo, o Pet Sounds, mas acho que a “ressaca Hippie” desse período é das mais importantes influências para mim. Por outro lado ouço várias bandas, de outras épocas e tento com tudo isso fazer uma pop que abranja, de certa forma, o maior número de influências diferentes.
Já não é a primeira vez que vejo chamarem-te o Beatle português, concordas com essa descrição?
(risos) Epá eu acho que se me dissessem isso na altura em que apareci eu ficava todo contente (risos), mas agora já cresci um bocado e já não tenho tanta vontade de ser associado a outras bandas… mesmo que sejam os Beatles (risos)
Uma das músicas do teu último EP, Fab, chama-se Brightest Hour. Depois de várias experiências ao longo de vários anos de carreira, qual achas que foi a tua “brightest hour”?
Ouviste essa música? A sério? (risos) Finalmente alguém que ouviu essa música! (risos). Agora a sério, acho que ainda está por chegar. Já houve alguns momentos desse género, como o impacto que teve o meu primeiro disco que considero muito importante. Praticamente só houve críticas positivas e elogios.
Entre o Jamboree Park at the Milky Way e o Proper Goodbye fizeste um período de hiato. A que se deveu?
Deveu-se a várias coisas, mas talvez o facto de me ter aborrecido por não haver uma estrutura que me apoiasse como artista fosse das principais. Não tinha um grupo de pessoas que trabalhasse no booking, por exemplo, e de um modo geral em toda essa parte mais comercial, para a qual não tenho grande jeito; estou mais concentrado na parte musical da coisa. Felizmente já tenho essa estrutura e ela já começou a dar frutos: este ano já se notou imenso a diferença com a quantidade de espetáculos e passagens nas rádios, os singles bem-sucedidos e, pronto, o que está por vir ainda será certamente fruto dessa equipa e desse trabalho.
E o teu novo álbum Weatherman: como o caracterizas?
O meu objetivo foi fazer algo não muito diferente do que já fiz, mas uma pop um pouco mais acessível ao público generalista. Ou seja, se no primeiro álbum era uma coisa mais experimental/psicadélica, o segundo já foi uma pop mais clássica. Neste procurei que houvesse uma mistura dos dois.
Falaste do teu início mais psicadélico e depois saltaste para a pop generalista: em qual dos dois achas que realmente está a tua casa?
Eu acho que pende tanto num lado como no outro. Nada me garante que no próximo disco não faça uma coisa completamente diferente deste. Acho que depende um bocado de para onde estou virado na altura.
E trabalhar com a Emmy Curl, como foi?
Foi altamente. Nós conhecemo-nos em 2009 enquanto eu promovia o meu segundo disco e nós, que sempre tivemos uma grande admiração pelo trabalho um do outro, volta e meia falávamos que era fixe fazermos algo juntos. Os anos foram passando e isso não chegou a acontecer até que no início deste ano, no concerto de apresentação do último disco, ela veio connosco, eu convidei-a para subir ao palco e cantar essa música. Na altura foi um bocado em cima do joelho, ela nem sabia bem a letra, mas achámos que resultava tão bem que dai até oficializarmos a coisa foi um instante.
Deste ano de 2013, quais foram os álbuns que mais ouviste?
Posso ver no Ipod? (risos) É que são tantos, nunca me lembro de todos. Então, o do Jonathan Wilson está ótimo, os Electric Soft Parade, o último dos Primal Sream está muito bom também…São muitos…
Finalmente, planos para o futuro próximo do The Weatherman?
Em Janeiro vou à Holanda, o meu disco vai ser lançado lá já com a música que fiz com a Emmy, temos meia dúzia de concertos lá, um deles no festival Euro Sonic e espero que essa experiência abra portas para outras. Paralelamente a isso vou continuar a trabalhar em músicas novas que já tenho e, quem sabe, talvez um novo EP.
(Fotos: Francisco Fidalgo)