O Jorge da Fonseca pareceu-me o mais calmo e José Fornadas o mais castiço. Estava lá ainda o Bruno, o “bonitinho da banda” (segundo os outros dois) e também o mais tímido. Só os acompanha no baixo quando tocam ao vivo. E o Tiago, que “só é o produtor porque tem carro”.
Os Los Waves são portugueses e o seu primeiro Longa Duração está aí a rebentar – lá para Março. Descontraídos, despidos de preconceitos e a caminho de um concerto, tiveram tempo para fizer um pit stop no “Sol e Pesca”, no Cais-do-Sodré, para falarem ao Altamont.
Altamont: Sabemos que as músicas que produzem têm muito a ver com as experiências que viveram durante as vossas viagens. Mas há quanto tempo se conhecem e quando decidiram que queriam fazer música em conjunto?
Los Waves – Jorge: Nós conhecemo-nos há 10 anos, para aí. Eu fui casa do Zé, nas Caldas da Rainha, porque sabia que era uma casa onde se ensaiava. Conhecemo-nos lá. Só que as outras pessoas começaram aos poucos a deixar de lá ir e só fiquei eu.
José: Yah, nós ensaiávamos Nirvana, Blink 182… Estes dois praticamente, não era?
Jorge: Sim. E depois, começámos os dois automaticamente a produzir as nossas próprias músicas, nem ensaiávamos nada. Na altura eram músicas que não têm nada a ver com isto que fazemos agora, eram mais acústicas.
José: Só muitos anos depois disso começámos a viajar.
Jorge: Muito depois! Para aí há um ano, dois anos…
José: 3 anos!
Jorge: Sim, isso! Depois fizemos uma parte da viagem separada, eu fui para a América do Sul, ele foi para o outro lado.
José: Yah, eu fui para a Tailândia. E aí separámo-nos e andámos sozinhos.
E alguma história ou experiência que vos marcou durante essas viagens?
Jorge: Sim, várias! Eu quase fiquei marcado mesmo na Colômbia. Passei por situações um bocado perigosas, com ameaças e coisas do género. Na Colômbia tive também uma noite muito interessante, na Amazónia – porque uma das fraldas da Amazónia começa na Colômbia. Eu estava com uma rapariga e, a certa altura, perdemo-nos um do outro, ao final da tarde. Acabámos por ter de passar a noite toda naquele sítio, completamente encharcados, de tal forma que eu cheguei a conclusão que era mais fácil andar nu! Portanto basicamente posso dizer-te que passei uma noite na Amazónia todo nu. É uma história para contar.
José: Pois, não! A minha viagem não foi nada disso! Dediquei-me praticamente ao surf e não tenho assim nenhuma história espectacular para contar. A única coisa assim mais desse género, sei lá… Estive duas semanas a viver em casa de duas pessoas, que era um casal de velhotes, só isso!
Então e Londres? Porque vocês são uma banda dividida entre Lisboa e Londres, não é?
José: Mas Londres foi muito antes disto! Então, na altura em que estávamos os dois viver em Lisboa, eu andava na Universidade; Tu também andavas a tirar um curso qualquer…
Jorge: Eu estava a tirar Jornalismo.
José: Pronto. E desistimos os dois da Universidade ao mesmo tempo, quando decidimos que queríamos fazer música electrónica. Nessa altura fomos os dois viver para uma tenda, na Zambujeira do Mar, onde estivemos 4 ou 5 meses. Começámos a compor as músicas ali mesmo, com a ajuda da guitarra, e foi assim que surgiram os Los Waves de certa forma.
Jorge: Sim, depois voltámos para a civilização para produzir essas mesmas músicas. E assim que as colocámos online no Myspace (que na altura ainda existia), passadas uma ou duas semanas, começámos a receber alguns contactos de Londres. Ir para Londres sempre foi uma coisa que passou pelas nossas cabeças e por isso, assim que recebemos esses contactos, fomos para lá. Estivemos em Londres cerca de 2 anos.
E agora estão em Portugal! Já têm 3 EPs na rua e um Longa-Duração previsto para o início deste ano. O que podemos esperar deste álbum?
José: Tem mais ou menos a ver com o som dos EPs. Tem a ver no sentido em que as músicas continuam catchy e radio friendly, como as que já conheces. Mas por outro lado, também estão mais rock. Basicamente estão mais adaptadas para serem tocadas ao vivo do que as outras. Isto porque, quando começámos a tocar ao vivo em Londres, e depois cá também, uma das primeiras dificuldades com que nos deparámos foi conseguir transpor aquilo que é a nossa música, feita em computador e produzida em estúdio, para um concerto ao vivo. Nós agora tocamos ao vivo com um baixista, que é o Bruno. E a verdade é que quando tocamos rock conseguimos divertirmo-nos mais, soa melhor, as pessoas gostam mais…
Jorge: Sim, a energia passa mais facilmente e é mais simples para nós. Porque como somos uma banda que faz as coisas a partir de Jam Sessions, acabamos por produzir as coisas no computador de forma um pouco despreocupada, sem pensar “como vamos apresentar o que estamos a fazer ao vivo?”. E depois quando a tocamos em concerto, acabamos por torna-la mais crua, mais rock.
E quando sai o álbum?
Jorge: Estava previsto para Fevereiro, mas está um pouco atrasado. Por isso, muito provavelmente, em Março.
Pegando então na vossa experiencia ao vivo, que falavam há pouco, como é que foi tocar no Mexefest do ano passado, dentro de um autocarro andante?
José: Olha, até agora foi o melhor! Grande concerto!
Jorge: O melhor! Foi o mais divertido.
José: As pessoas estão muito mais à vontade dentro de um autocarro do que numa sala de concertos. Tipo, há umas semanas tocámos ali no Lounge, foi o concerto logo a seguir ao Mexefest, e notámos uma diferença enorme. Estavam lá praticamente as mesmas pessoas que nos tinham visto no Mexefest. Só que, enquanto que no autocarro estavam a fazer crowdsurfing e a curtir à grande, no Lounge as pessoas estavam super paradas, parecia que não tinham permissão para curtir, estavam mais constrangidas.
Jorge: E o autocarro é uma coisa diferente, as pessoas também já vinham todas meio bêbedas. E como não havia palco, estávamos ali no meio delas a tocar.
E o público português, é melhor do que os outros?
Jorge: A diferença maior que eu noto é que o público inglês é muito parado e impessoal até se embebedarem completamente. Porque eles embebedam-se todos sempre e completamente. Faz parte da cultura.
José: Sim e outra coisa que notámos bué quando tocámos em Londres foi que é completamente diferente tocar às 21h ou à meia-noite. Às 21h ninguém estava bêbado, mas à meia-noite já eramos a melhor banda do mundo. Nessas alturas os ingleses já querem subir para cima do palco e falar no microfone… Começam a entoar os cânticos do futebol… Essas coisas.
Jorge: É um público diferente do nosso. Aqui as pessoas são mais emotivas e sabem as letras.
Há pouco diziam que, hoje em dia, já se preocupam mais com a forma como produzem as vossas músicas, no sentido em que têm o cuidado de antever como elas funcionam em palco. A minha pergunta é: como é a interacção entre vocês, ao vivo e em estúdio. Ou seja, quem faz o quê?
Jorge: Em estúdio acabamos por estar todos um pouco à volta do computador. Ao vivo, eu estou na guitarra e na voz. O Zé toca também guitarra, teclados e também canta. E temos a ajuda do Bruno, que só toca baixo.
José: E é bonito.
Jorge: Sim, a função dele é ser o bonito da banda. Depois temos o computador a mandar as baterias, como ferramenta.
Tiago: Mas há uma grande diferença. Dantes as baterias eram quase sempre só feitas em computador, mas agora adoptamos um novo esquema. Gravamos mesmo as baterias reais e depois só temos de as samplar para as conseguir usar ao vivo. Ou seja, já não vamos buscar os pre-sets que antes se usavam. Dai estarmos assumidamente mais rock.
José: És produtor, portanto falas de coisas mais técnicas!
Tiago: É verdade!
Em relação à vossa sonoridade, já foram mais acústicos, mais electro, já foram DJs e fizeram Live-Acts. Agora estão assumidamente mais próximos do Rock. Mas afinal qual é o som que realmente vos identifica?
José: Enquanto banda, aquilo que nós queremos fazer agora é o Rock. E demorámos este tempo todo a percebemos que era o tipo de som com que nos identificávamos mais. Mas não tem nada a ver com aquilo que ouvimos em casa…
Mas o que é que ouvem em casa?
José: Eu só oiço Oasis agora. O Bruno só ouve The Strokes. E o Jorge também só ouve uma coisa qualquer.
Jorge: Eu… Não sei, tantas…
José: Não! Só podes dizer uma coisa. E tem de ser fixe.
Jorge: Oh puto, eu ontem só ouvi Gal Costa… serve?
É justo! Então e quais são as vossas influências para as vossas musicais?
Jorge: As nossas influências para as nossas músicas têm variado muito. Por exemplo, quando estávamos a produzir o single “Got a Feeling” ouvíamos muita música dos anos 70. E muito Tame Impala. E também MGMT. Principalmente isto. Mas ontem, por exemplo, estávamos a ouvir a “Fix You” dos Coldplay para tirar ideias para outra música. Ou seja, temos ouvido coisas se calhar um pouco mais mainstream neste momento. Não para as nossas músicas ficarem mainstream, mas talvez para as tornar mais internacionais, se calhar.
Mas e agora? Acham que se vão manter no registo menos electrónico e mais rock? Ou não vão conseguir ser fiéis a isso por muito tempo?
Jorge: O nosso som tem ficado cada vez menos electrónico. É a única tendência que eu tenho reparado.
José: Sim, tipo em comparação com aquilo que fizemos há dois ou três anos no Myspace, o electro esteve sempre a decrescer. E estamos a pô-lo cada vez mais de parte.
Jorge: Olha, se calhar podemos voltar ao acústico, que foi por onde começámos.
José: Fechamos o ciclo e depois abrimos e voltamos ao electrónico outra vez, quem sabe?
E música portuguesa? Ouvem?
José: Pouco. Não ouvimos quase nada!
E a vossa opinião sobre o panorama musical português?
José: O problema é que como nós não ouvimos muito, não sabemos muito bem o que anda por aí de música portuguesa. Por isso é um pouco difícil dizer-te o que é que achamos. Mas, em termos de songwriting, acho que as coisas não são más. Já em termos de produção e pôr as coisas a soar bem, já entramos numa zona um bocado mais terrível.
Jorge: Não é terrível. Mas as gravações são muito fechadas e as músicas soam sempre muito a estúdio. São secas. Respiram pouco.
José: E está bem melhor agora do que dantes!
Jorge: Mas por exemplo, em termos de bandas, os Paus têm todo o potencial para ser uma banda ao nível de qualquer banda internacional do género. E em termos de escrita, por exemplo, acho que temos coisas muito boas. As letras do B Fachada são geniais. Ou seja, acho que há 4 ou 5 exemplos mesmo muito bons e depois, no geral, se calhar tudo o resto me passa um bocado ao lado. Não só pela qualidade mas também muito pelo tipo de música de que gostamos.
Finalmente, projectos para o Futuro. Sabemos que o álbum está aí a rebentar, mas e a seguir?
José: Estamos a tentar fechar os Festivais de Verão… e basicamente é isso. Gostamos dos festivais, para tocar e podermos curtir a seguir.
Jorge: Ah e também temos outro plano. Queremos abrir uma tasca!
Tiago: Mas é uma tasca onde estamos os 4 atrás do balcão a servir, o tempo todo. Não saímos do balcão nem sequer há serviço de mesa. E depois pode-se dar o caso de alguém lá ir para pedir qualquer coisa e estarmos os 4 à conversa sobre outra coisa qualquer.
José: Mas isto é porque o pai do Tiago tem uma tasca. Aquilo fecha às 22h que é quando nós vamos para lá. E ali ficamos até à 1h, às 2h da manhã… antes de irmos sair à noite. E pronto, aquilo é bar aberto, há shots, gostamos da experiência e estamos lá os 4. Parece-nos bem!
E onde seria a Tasca?
José: Nas Caldas da Rainha.
Jorge: No Centro da Juventude!
José: É verdade. Mas isso não era para se dizer…
P.S.: Obrigada pela Imperial, que não tive oportunidade de agradecer!