
Forças da Natureza. Quer seja um orvalhar, um amanhecer ou um dilúvio. Não temos controlo, apenas vivemos subjugados aos fenómenos que movem a nossa existência. É justo incluir o pós rock de Imploding Stars nesta categoria. Provas? Quem ousou ir ao Musicbox, numa cansativa e fria quarta-feira, pôde comprovar isso: os Imploding Stars criaram um pequeno microclima em Lisboa.
Entre as 23h38 e as 00h51, o Musicbox teve vulcões em erupção, tempestades, faunas e floras em crescimento, apocalipses e paraísos naturistas. A culpa foi dos Imploding Stars que, com as suas canções, forçavam os nossos sentidos a uma viagem. Quer quiséssemos ou não, tal como uma força da natureza. Blame it on the Boogie diriam os Jackson 5. Ali sentíamos a nossa mortalidade. A nossa pequenez. A cada parede de som, a cada momento de serenidade que antecedia um momento de pura explosão melancólica. Os instrumentos falavam e davam voz a um planeta vivo, mas também mortal.
Dotados de uma agressividade ternurenta, este quinteto de Guimarães e de Braga lançou em Novembro do ano passado o seu primeiro disco A Mountain and A Tree. E com toda a simplicidade, tocaram o álbum do início ao fim. Transformaram oito faixas naquilo que realmente é: uma longa canção com diferentes momentos. Quem não conhecia pode muito bem gambuzinar que só tocaram um tema. Pausas? Apenas duas interrupções para agradecimentos.
Um feedback enorme ditava o início da viagem que começou com o doce caos de «Unquiet Breeze». A agressividade no crescendo dos acordes das três guitarras pressagiaram o acordar de uma força que hibernava há muito tempo. Após este acordar, os primeiros dedilhados serenos de «Awaken Forest» denunciavam esta dinâmica de falsa serenidade, que seria a divisa da noite. Esta falsa serenidade era comandada pela bateria de Élio Mateus: os momentos calmos guardavam uma violência que só começava quando a bateria espancava a tarola, os crashes e os splashs. A intensidade estava à flor da pele: pele de galinha para quem ouvia e, sem querer, várias baquetas voavam para quem tocava. A violência da percussão e a melodia épica do trinar das guitarras puseram um Musicbox semi-cheio em silêncio.
O concerto não era apenas acompanhado por cerveja e alguns olhos hipnotizados. As paisagens naturais projectadas, no ecrã da sala, faziam parte da viagem. Montanhas, cascatas, animais, tempestades, furacões, vulcões, desertos, tundras e florestas, dignas de um National Geographic, andavam de mão dada com as canções. A sinestesia era inevitável, e a relação imagem-som guiava-nos numa viagem cheia de cores e de sensações mistas. Cada um de nós à sua maneira, mas guiados pelo quinteto nortenho. Os headbangs e as palmas (quando assim as pausas permitiam) não faltaram. O público, atento e curioso, comprometeu-se, mas alguns momentos de silêncio não foram respeitados por alguns. Mesmo assim, o ataque da banda (e há medida que o disco chega ao fim mais soa a pós metal) não deixou ninguém indiferente.
Pelas 00h30, o mundo acabava no Musicbox. «Beneath this Tired Ground», tema que fecha o disco, anuncia um final certo. O momento mais sombrio da noite foi acompanhado por imagens espaciais apocalípticas: planetas em colisão, magma e explosões. Mas os Imploding Stars profetizam uma esperança também certa: um arpejo sereno, à boa moda dos grandes do pós rock, anuncia um novo começo.
Entre as 23h38 e as 00h51, o Musicbox não era no Cais do Sodré. O Musicbox foi um shuttle que contemplou os lados mais belos da vida e da morte. Com o volume e o gain altos, sentimo-nos impotentes perante algo tão belo.
É importante não esquecer os Toulouse, trio Vimaranense que tocou antes de Imploding Stars. Apesar de só terem apresentado o single «Tero!», já foram finalistas da Vodafone Band Scouting e já estão a mostrar provas do seu talento. Saltitantes e solarengos, praticam um típico indie jovem, que não prescinde da sua bateria maquinal e dos seus (curtos) momentos de melancolia. O exemplo da face mais sombria dos Toulouse está em «Paloma», a canção que abriu o set. Apesar de pouco se ouvir a voz, era quando o baixista-vocalista berrava, emaranhado pela profundidade do reverb, que mais entusiasmava. Tocaram para um Musicbox ainda pouco composto e tímido no que toca a palmas, mas é inegável augurar um belo futuro.
Guimarães só mostra ser mais uma cidade com uma estranha toxina que aumenta as aptidões musicais. Na mesma noite em que Marco Paulo fez 70 anos, a Tradiio e o P3, ao promoverem este concerto, celebraram algo maior: a qualidade da próxima fornada da música portuguesa.
Fotos: Francisco Fidalgo






















