Nasceram nas Taipas, Guimarães, em 2011, e cerca de um ano depois lançaram o EP, Young Route, que os levou a inúmeros palcos em Portugal, Irlanda e Espanha.
Em Fevereiro de 2014 mudaram-se para Braga onde compõem e gravam o seu primeiro longa-duração. Inseridos, desde o princípio do grupo, no panorama post-rock nacional, Diogo, Élio, Filipe, Francisco e Jorge, acabaram por mudar ligeiramente a linha de pensamento da banda procurando um caminho mais melódico e clássico dentro do género. O resultado chama-se A Mountain and a Tree, editado em Novembro passado pela Cosmic Burger, e é um disco que merece ser escutado com atenção!
O Altamont apanhou os dois membros fundadores, Filipe Oliveira e Jorge Cruz, numa esplanada para uma conversa sobre a banda e suas raízes, a música que praticam e qual a melhor forma de ouvir este novo álbum.
Apesar do vosso primeiro álbum, A Moutain and A Tree, ter saído no final de 2014, vocês já existem há uns bons anos. Actualmente, o post rock português está a ter um boost. Como é ser músico de post rock, em Portugal, em 2015?
Filipe: Está muito melhor que em 2011. O post rock cresceu bastante, existem muito mais bandas, as pessoas reconhecem o post rock. Há uns anos música sem voz, apenas instrumental, não era música para massas. O pessoal achava estranho teres uma banda sem voz, e perguntavam-nos sempre “então e porque não arranjar uma voz?”. Mas com o passar do tempo, e com a ascensão do post rock, mais e melhores bandas foram aparecendo e o público já começou a ter uma aceitação maior. E isso está à vista nos eventos para massas, onde já metem bandas de post rock. Estou a lembrar-me, por exemplo, de God is an Astronaut e And So I Watch You From Afar em Paredes de Coura. E a cada ano que passa há mais: o Amplifest já trouxe imensas sempre imensas, o Reverence também teve algumas, o Primavera teve os Godspeed [You! Black Emperor] e os Mogwai (e Mogwai também já tinha estado em Paredes de Coura). Já existe esta plataforma para o post rock. O post rock já começa a ser algo normal, não tão escondido no underground. Ou seja, ser músico de post rock em 2015 é muito mais fácil do que em 2011, tendo em conta que as pessoas já estão mais receptivas a esse tipo de música.
Jorge: Naquela altura, ao criarmos uma banda, tínhamos sempre a pressão de procurar uma voz. Nós rejeitámos isso um bocado porque o que queríamos era fazer post rock. Tinhamos sempre aquela ideia que era melhor não. Mas depois o post rock começou a aceitar-se e a coisa pegou. Mas, atenção, este género de música sempre foi algo natural. Às vezes as pessoas diziam: “Ah, é post rock que estás a tocar!” e eu “Ai é?”. Sempre foi algo mesmo natural.
Como é que este projecto começou?
Filipe: Só eu e o Jorge permanecemos da formação original. (risos) Houve algumas alterações e, entretanto, fomos juntando o pessoal que temos agora. Com tempo, criámos este circulo que agora são os Imploding Stars. Somos 5: Eu, o Jorge, o Francisco, o Élio e o Diogo. Foi simples: começámos a fazer música juntos. No Young Route não eram os mesmos.. estão 3 elementos diferentes. E foi crescendo assim: juntámos as pessoas, quisemos fazer post rock, gravámos o EP, algumas pessoas foram saindo por motivos pessoais, entraram outras, fizemos um álbum e aqui estamos. Prontos p’rá próxima!
E não foi só a formação da banda que mudou, pois não? É notável as diferenças entre a sonoridade do vosso EP, Young Route, e entre o vosso primeiro longa-duração, A Mountain and A Tree. O Young Route parece-me muito mais agressivo.
Filipe: Sim. E mais progressivo! Agora fazemos coisas mais melódicas e não tão agressivas. Em vez de termos guitarras por trás a tocarem riffalhadas, agora apostámos mais em ambientes: uma guitarra mais ritmada, com menos power chords e riffs.
Jorge: Uma grande diferença está no produtor. No EP tivemos um produtor, e agora, no A Mountain and a Tree, produzimos tudo sozinhos. Os 5 juntos!
Filipe: Já tínhamos feito a pré-produção e as pré-gravações todas, bastou ir ao estúdio gravar. Demorámos 2 dias a gravar o disco. E, por isso, o disco saiu de uma maneira muito mais natural!
Muito mais natural que o EP, certo?
Filipe: Sem dúvida. No EP tivemos a influência do produtor, que não foi mau para nós, atenção! Apenas puxou pelo nosso lado mais pesado. Entretanto, a banda evoluiu para aquilo que é agora… E estamos a fazer uma coisa diferente.
Mas ainda há alguns tiques vossos que não desapareceram! O trinar e algumas melodias que, apesar de serem mais calmas agora, não deixam de ser épicas. E sinto, especialmente na “Beyond the Horizon” e na “Beneath this Tired Ground”, alguns restos dessa vossa agressividade do EP.
Filipe: Esses bocados são já da nossa identidade! E não é, de todo, nosso objectivo fazer desaparecer esses traços que marcam a sonoridade da banda. Essas explosões épicas são uma característica nossa, e estão presentes em quase todas as nossas músicas (umas mais que outras, é claro). Nessas músicas que referiste estão mais presentes, sem dúvida! Mas, lá está, tanto o EP como o disco fazem parte de nós e, essa característica, é para manter.
Então se vocês tivessem que descrever a vossa música a alguém que não conhece o vosso projecto, o que é que vocês diriam ou fariam?
Filipe: Provavelmente não iria dizer nada, apenas mostrava o tema que dá nome ao álbum, a “A Mountain and A Tree”. Acho que essa música caracteriza perfeitamente tudo o que nós fazemos! Tem a parte calma, a parte melódica, a parte pesada, etc. Todos os momentos que explorámos ao longo do álbum estão resumidos neste tema. É sem dúvida uma música que define bem a nossa identidade.
Há todo um estado de melancolia nas vossas canções. Vocês são pessoas melancólicas?
Filipe: Não somos pessoas muito felizes, não. (risos)
Jorge: Somos um bocado, sim.
Filipe: Apesar de sermos todos super festeiros…
Jorge: Eu não.
Filipe: Ele não. Mas eu e o Élio somos super festeiros, o Diogo é recatado e o Chico é meio-termo. Mas às vezes embebedamo-nos que nem animais (risos). Mas sim, temos fases mais introspectivas e isso, claramente, passa para a música que fazemos.
É fácil de compreender que é um disco conceptual, com a clara intenção de contar uma história. Quando acabo de ouvir uma música vossa, deste novo disco, sinto que o tema não terminou. Há uma necessidade de ouvir a próxima faixa! Quase como se o disco inteiro fosse uma só canção. Tal e qual como se este disco só fizesse sentido a ouvi-lo do inicio ao fim. Isto foi algo consciente?
Filipe: Fico muito contente por teres essa sensação, pois esse era um dos objectivos ao gravar o álbum. Se repararmos, o final de uma música entra sempre no início da outra. E isso não foi por acaso. O álbum é assumidamente conceptual e foi concebido para ser ouvido num todo. Há uma sequência lógica da primeira à última faixa e não é difícil de notar isso, aliás, o nosso set ao vivo não é complicado: começa na primeira faixa do disco e termina na última faixa do disco. É o disco seguido. (risos)
Jorge: Mas claro, há temas que fazem sentido ouvir soltos, como o single do disco, a “Earthquake“. Foi pensada para ser single. Aliás, o nome da “Earthquake” na pré-produção era “single”. (risos)
Filipe: E depois há 4 faixas que são duas músicas, como a “Unquiet Breeze”, que são inseparáveis da faixa logo a seguir.
Jorge: Decidimos partir isso no disco especialmente por causa dos nomes.
Filipe: Por exemplo: a “Unquiet Breeze” e “Awaken Forest” são uma só música. Uma brisa inquieta que acaba por acordar uma floresta. E os títulos ajudam na compreensão da viagem.
Jorge: É tudo uma viagem, desde o início ao fim.
Acham o vosso disco romântico e contemplativo? Um roteiro que contempla várias forças da natureza?
Filipe: Sim, mas muito mais! Nós tentamos transpor para melodias imagens que contemplam a natureza e as poderosas sensações que ela é capaz de nos transmitir. Conseguimos ter partes mais bonitas e calmas, sem deixar de fora a violência e, até mesmo, partes tristes que remetem para o desrespeito humano perante a natureza. Mas, e essa é a beleza da música, deixamos ao critério de cada pessoa formular as suas próprias imagens e emoções. É por isso que fazemos música, para fazer as pessoas sentir e deixá-las apropriarem-se das nossas canções.
É um disco muito visual.
Filipe: Sim. Aliás, fazemos projecção durante os concertos. As imagens estão associadas à mensagem sonora que pretendemos. E, assim, a malta associa logo, quando ouvir a música, o som às imagens. Isso ajuda bastante a guiar quem vier a um concerto de Imploding Stars.
Quase que podiam fazer parte de uma banda sonora qualquer.
Filipe e Jorge: Era bom, era bom. (risos)
Filipe: Nunca pensámos nisso, mas era um projecto em que alinharíamos logo.
Como é que é um concerto de Imploding Stars?
Filipe: É diferente do disco. Se as pessoas ouviram o disco, e gostaram, deviam ir também ao concerto, porque é uma experiência completamente diferente. O live act é muito mais visual (tem muitas projecções), intenso e dinâmico. No disco, por motivos de masterização, aquilo teve que manter sempre uma linha e um equilíbrio de volume. Ao vivo conseguimos controlar perfeitamente a agressividade: tanto descemos o volume até ao inaudível (as pessoas têm que se aproximar para perceberem o que está a acontecer), como logo a seguir há uma violência que quase magoamos os ouvidos. (risos) É uma experiência muito mais potente.
Jorge: “Partir cabeças.” (risos)
Filipe: Como diz o nosso técnico de som.
Como é que vocês acompanhavam a audição do vosso disco? Imaginam alguma bebida ou situação ideal para ouvir o A Mountain and A Tree?
Filipe: Há várias. Sabe mesmo bem ouvi-lo deitado numa cama, de olhos fechados com uns phones fixes. Também sabe bem quando se está em viagem, numa autoestrada super vazia com o solinho a dar de frente. Já fizemos isto em várias situações e digo estas porque são as mais cliché! Também dá no dia-a-dia, seja para trabalhar, para entristecer ou para alegrar (há umas malhas que puxam pela alegria). O que interessa é que as pessoas gostem do disco e o ouçam da maneira que mais achem apropriada. Se os temas transmitirem alguma coisa a quem nos ouve, a nossa missão fica missão cumprida.
Há enormes influências e tiques, tanto nas guitarras como nas dinâmicas, de grandes do post rock. Há momento com cheirinho a Mono, outros a Caspian e a Explosions in the Sky. Parece que conseguem juntar o melhor doce do post rock. Quais são as grandes referências?
Jorge: Acertaste em todas.
Filipe: Sim! (risos) Explosions in The Sky, Caspian e Mono são as referências que temos em mais alto patamar.
Jorge: Cada um, à sua maneira, traz as suas influências à banda. São bandas com dinâmicas e sons de guitarras diferentes, apesar do post rock parecer todo igual a um ouvido destreinado. E isso é importante para nós.
Filipe: E qualquer apreciador de post rock nota: Mono tem aquele som mesmo embrulhado, enquanto Caspian tem um som super brilhante. São diferentes.
O que é que vocês acham que vos distingue?
Filipe: Acho que aquela agressividade épica que disseste estar presente tanto no EP como no disco. Essa é a nossa marca. Acho que conseguimos ser reconhecíveis nos nossos crescendos e explosões de guitarra, como na “Beyond The Horizon”. São dinâmicas que usamos muito!
Até o próprio disco é um crescendo!
Jorge: E, nesse aspecto, é preciso ter paciência para ouvir o disco.
Filipe: Sim, é preciso ter paciência e gostar. Deixar aquilo crescer. Aquilo acaba por entranhar!
Jorge: Quando ouço bandas estou sempre à espera do momento em que aquilo rebenta. Em Imploding [Stars] isso acontecer na maior parte das vezes.
Filipe: E, a meu ver, isso torna a nossa música muito mais viva e poderosa. Os 20 minutos de «Sleep» dos Godspeed You! Black Emperor não cansam, por exemplo.
E agora, quais serão os próximos passos?
Filipe: Epá, é continuar esta tour de apresentação e mandarmo-nos lá para fora, como já fizemos há uns tempos.
Pois é, vocês tiveram umas datas noutros países! Como é que o público estrangeiro reagiu?
Filipe: Sim, tocámos na Espanha e na Irlanda. Foi excelente! Um dos melhores momentos enquanto banda. Nós fomos de carrinha daqui para a Irlanda.
Jorge: Um dos melhores momentos de banda e de vida. Conhecer outros públicos, outras bandas. Foi quase como umas férias com amigos, pegar numa carrinha para uma roadtrip. A diferença é que estás carregado com o material todo e trabalhas a fazer o que gostas – música, obviamente.
Filipe: Aquilo era uma casa, um estúdio… era tudo. Levámos tudo dentro da carrinha: baterias, guitarras…
Suponho que o disco e essa tour tenham sido, até agora, os pontos altos da vossa carreira.
Filipe: O disco foi o mais importante até agora, mas sem dúvida os concertos lá fora foi uma experiência importante para o crescimento da banda.
Deu para ter contacto com muitas bandas estrangeiras?
Filipe: Já tínhamos tocado com muitos deles.
Jorge: Kasper Rosa, PigAsPeople, Eatenbybears…
Filipe: Por exemplo, Kasper Rosa fez tour cá e nós tocámos com eles. Eles vieram cá e tocámos com eles a tour inteira, fomos para lá – eles são Irlandeses – e marcaram-nos a tour. Entretanto fomos fazendo mais amigos por aí, eles ajudaram-nos a montar a tour e aconteceu.
Como é que é o público do post rock lá fora?
Filipe: Quer dizer, neste momento já se equipara. Mas na altura lembro-me de ter sido um sentimento super caloroso. Salas cheias a gritarem por músicas – como é que querem que eu não fique surpreendido?
Jorge: Até fizemos crowdsurf, incrível. Valeu a pena os concertos no Radar e no Workman’s Club.
Se for para avançar com discos, é para manter esta linha conceptual?
Filipe: Sim, talvez uma continuação deste… quem sabe? Ou então um conceito novo. Já estamos a pensar em novas ideias, entretanto começaremos a compor. Já começámos a fazer coisas novas, mas ainda está tudo muito embrionário.
Fotos: Francisco Fidalgo