Nove anos após o último concerto em nome próprio, os Vampire Weekend regressaram a Portugal para darem duas horas e meias de concerto de uma intensidade inesperada.
Ezra Koenig, Chris Baio e Chris Tomson têm razão para estarem satisfeitos. O agora trio, após a saída do multi-instrumentalista Rostam Batmanglij, está numa forma impecável e Lisboa pôde testemunhar isso neste concerto.
O Coliseu dos Recreios não encheu mas estava muito bem composto e com um público composto por várias idades, desde os que os viram dar o primeiro concerto na edição de 2008, no Optimus Alive, aos que os conheceram pela primeira vez com o novíssimo disco Father Of The Bride, muitos deles acompanhados pelos seus pais. É precisamente por esta mistura que afirmamos que a banda tem razões para estar satisfeita. Em dez anos muita coisa mudou. O rock e, em particular, o indie viviam um momento forte. Em 2019 o cenário é outro. A nova geração abraçou o movimento hip-hop tornando bandas como os Vampire Weekend ou MGMT nuns músicos de velha guarda e, ao contrário do que acontecia com as bandas pré anos 2000, estas tornam-se facilmente esquecíveis e postas em terceira ou quarta linha de alinhamentos de festivais, vide Franz Ferdinand ou Interpol, antes realeza do movimento indie.
Formados durante a cena indie de Williamsburg, em Nova Iorque, a banda que se juntou para tocar músicas que pudessem ser a banda sonora dos filmes de Wes Anderson está mais madura. Essa mudança começou em 2013 com Modern Vampires of The City, um disco mais introspectivo, no qual conseguia-se encontrar as primeiras rugas da banda e quem as tem sabe perfeitamente que atrás dessas rugas estão experiências, momentos e vivências que nos ajudam a crescer.
Com a chegada à fase adulta vêm decisões importantes e, por vezes, fracturantes. A saída de Rostam foi um duro golpe no futuro da banda, ele que tão importante tinha sido para o som da banda, especialmente no segundo disco – Contra – trazendo um som mais electrónico à base mais aprumadinha de Koenig. Ao mesmo tempo, a perda de Batmanglij, aliada à mudança para a costa oeste dos Estados Unidos, abriram caminho a Ezra para abraçar outro tipo de influências e sonoridades. E foi isso mesmo que todos puderam testemunhar no, sempre óptimo, Coliseu dos Recreios.
Com um globo enorme, cópia da capa do último disco, com projecção 3D, a banda entrou em palco por volta das 21:20. Para quem ainda não tinha tido oportunidade de os ver ao vivo desde a saída de Rostam, a novidade é que são agora sete os elementos em palco. A Ezra Koenig, e aos seus companheiros de banda, Chris Baio no baixo e Chris Tomson na bateria, juntam-se Brian Robert Jones na guitarra, Garrett Ray nas percussões, Will Canzoneri ao piano e Greta Morgan nas teclas e vozes de suporte.
Com esta formação mais coesa e robusta, os Vampire Weekend deram início às hostilidades. Num total de 28 músicas, a passar as duas horas e meia de concerto, a banda não fez o típico best of que muitos pecam em fazer, mesmo tendo discos novos para apresentar. Depois do cheirinho dado no NOS Alive, a banda fez questão em elogiar Portugal, Lisboa e o público nacional por diversas vezes, prometendo não nos fazer esperar tanto tempo para voltar em nome próprio (nove anos desde o concerto dado no Campo Pequeno).
A banda começou “Flower Moon”, décima terceira música do seu último trabalho, e começamos a ver que não há razão para temer um eventual esquecimento da banda norte-americana. O seu som está revigorado, descomprometido com o seu passado. Se antes eram vistos como uns meninos bem comportados, os betinhos do rock, com um som e estilo muito certinho, com este novo som e figurino na banda, especialmente o guitarrista Brian Jones Robert, a ideia que passa é de uma banda que não arruma a cama assim que se levanta, não mete os pratos na loiça mal toma a refeição e não dobra a roupa antes de se deitar. O sol da Califórnia faz milagres.
Apesar de terem tocado várias dos primeiros discos (“Holiday, “Oxford Comma”, “Cousins” ou “A-Punk”) e ainda uma (desncessária) da banda sonora do filme Twilight (“Jonathan Low”), o cerne do concerto foram os últimos dois discos, especialmente Father Of The Bride e felizmente que assim foi, pois esta nova formação da banda trouxe momentos muito interessantes às músicas, com solos de guitarra e bateria, jams à imagem dos Grateful Dead, que, curiosamente, é uma banda que Ezra Koenig anda muito interessado.
Quando Ezra e companhia deram o primeiro adeus com a belíssima “Jerusalem, New York, Berlim”, o concerto já ia na 21ª música. Regressaram para o encore com a divertida “Mansard Roof”, faixa que abre o seu disco de estreia, e aí começou a dar-se mais outro momento especial entre a banda e o público. Ezra disse que estavam abertos os pedidos para músicas a serem tocadas. Gritos ouviam-se de todo o lado da plateia mas eram os que estavam mais perto que seriam ouvidos, no entanto, em vez de pedirem coisas óbvias, os fãs mais acérrimos da banda foram pedindo faixas mais inusitadas: “Ladies of Cambridge”, lado B do single da música anterior; “The Kids Don’t Stand a Chance” e “My Mistake”, esta pedida por um italiano de Nápoles, de seu nome Giacomo, que inclusive subiu ao palco para tocar o piano da canção. Se foi tudo arranjado antes não o sabemos mas que foi inesperado e delicioso, isso foi.
“Worship You” e a bela “Ya Hey”, de Modern Vampires marcavam as despedidas da banda que terminaria o concerto com Walcott, e a promessa de que voltarão novamente, desta vez com menos intervalo de tempo. A banda tem razões para estar satisfeita e orgulhosa com o seu presente. Os milhares que estiveram ontem no Coliseu também. São boas notícias para a velha guarda do indie rock.
Fotografia: Inês Silva
Alinhamento:
- Flower Moon
- Holiday
- Bambina
- Unbelievers
- Everlasting Arms
- One (Blake’s Got A New Face)
- Sympathy
- Oxford Comma
- Jonathan Low
- Unbearably White
- Step
- Sunflower
- This Life
- Married In A Gold Rush
- Harmony Hall
- Diane Young
- Cousins
- A-Punk
- 2021
- Giving Up The Gun
- Jerusalem, New York, Berlin
Encore:
- Mansard Roof
- Ladies of Cambridge
- My Mistake
- The Kids Don’t Stand A Chance
- Worship You
- Ya Hey
- Walcott