Eis que os Vampire Weekend chegam ao tão decisivo terceiro disco. Aquele que define uma banda. Aquele que mostra que afinal vieram para ficar e que não fazem música apenas para sobreviver mas para dizer que têm ideias para mostrar e que estão ligados de verdade à música. Posto isto, será que a banda “betinha” de Nova Iorque cumpre estes requisitos? Ora meus amigos, a resposta é apenas sim. Sim. Os Vampire com este Modern Vampires of the City mostram-nos, claramente visto (ou ouvido) que estão nisto para perdurar. E fazem-no, como já o fizeram no disco anterior, “Contra”, sempre em evolução, em crescendo, com algo mais a acrescentar. E isso meus caros é cada vez mais raro no indie de hoje em dia, se bem que se formos analisar a banda, ela não é propriamente indie. É uma banda pop que foi buscar a sua alma a Graceland de Paul Simon e com isso criou o seu próprio universo, o seu próprio som, aquele que já podemos definir como som “Vampire Weekend”.
Se no primeiro disco o tom jovial da banda se fazia sentir em músicas como “A-Punk” e “Walcott”, já o segundo começou por trazer um certo crescimento, uma tentativa de mostrar algo mais, experimentar aqui e ali mas sem descurar a sua alma, o seu som.
Agora com este terceiro os Vampire fazem, em bom, o que os Bloc Party tentaram fazer em Intimacy. Fugir ao registo mais comercial com vários tipos de experimentação, vários tipos de mudanças musicais, mas sem nunca perder aquele “brilho nos olhos” da sua pop, completamente descurado, provavelmente propositado, pelos Bloc Party.
No rock, ou pop/rock, para enquadrar mais ou menos todos os estilos musicais, há uma velha máxima que associo aos bons. Estes desaceleram, mudam o registo, procuram outras formas de manter a cabeça a trabalhar para evoluir, pelo contrário, os maus tentam fazer mais do mesmo, ou quando já ninguém lhes liga, voltam aos primeiros discos e tentam emular uma altura da vida que já não pode ser emulada. Nem os próprios Rolling Stones, muitas vezes acusadas de serem básicos, foram iguais durante a sua carreira. Tentaram o psicadelismo e este não lhes assentou bem, mas evoluíram o seu rock ao longo dos anos e até chegaram a mordiscar o disco lá para meados dos 70s. Isto para dizer que uma banda não pode ser estanque a isto ou aquilo, não pode estagnar, mas há uma coisa que não pode perder que é a sua identidade e isso os Vampire Weekend não o fazem. E se nos primeiros discos a influência maior foi, obviamente, de Paul Simon, agora vemos muitos traços de Fleetwood Mac na fase de Rumours como se pode ouvir claramente em “Everlasting Arms”. Mas as evoluções/mudanças não ficam aqui.
Aparte das mais mexidas “Unbelievebers”, música que já tinha estreado há quase um ano no talk-show de Jimmy Kimmel e que nos dá toda aquela sensação de verão que a banda de Ezra Koenig transmite muito bem; de “Diane Young” e “Worship You” que sendo mais mexidas já nos dão ideia dessas evoluções de que vos falei (“Diane Young” tem elementos de modificação de voz algo estranhos para uma banda pop, enquanto “Worship You” parece uma música rodeo épica), o resto do disco é muito mais introspectivo e mais sombrio do que se poderia esperar da tal banda pop como pensávamos conhecer tão bem e o mote é dado, antes do mais, pela própria capa do disco. Uma Nova Iorque a preto e branco coberta de nevoeiro e isso reflecte-se logo desde a primeira música, “Obvious Bycicle”, desaguando em “Hudson”, a música mais negra que conheço de Vampire Weekend. Antes disso “Ya Hey” questiona a natureza de um Deus: “Oh, the motherland don’t love you/The fatherland don’t love you/So why love anything?/Oh, good God”. Isto aliado a um coro do mais estranho que lhes tenho ouvido.
O final do disco fica pela primeira vez entregue a uma música exclusivamente da autoria de Rostam Batmanglij, uma peça de piano clássico que resume exactamente o que é este Modern Vampires of the City. Um disco de sabor agri-doce de mas de muita qualidade. E sim. A banda superou a barreira do terceiro disco.