No seu último disco de originais que teve edições diferentes no Reino Unido e nos Estados Unidos (Flowers é uma espécie de colectânea feita propositadamente para o mercado americano), Between the Buttons assume-se como um dos melhores discos da carreira dos Rolling Stones, sobretudo esta versão americana que incorpora alguns singles que não estão presentes na original inglesa tais como “Let’s Spend the Night Together” e “Ruby Tuesday”.
Between the Buttons, lançado no início de 1967, é claramente um disco do seu tempo. Uma optimização do que começou com Aftermath, onde os Stones começam a fugir da sua génese dos clássicos do Rock e Soul americana dos anos 50 e inícios dos 60 e começam a aproximar-se do que faziam os Kinks ou um bocado os Beatles, apesar de terem ficado a léguas de um Revolver, por exemplo.
A banda começou as gravações para este disco em Agosto de 1966 quando os primeiros movimentos sinais do psicadelismo começavam a surgir na “Swinging London” e, após a oriental e poderosa “Paint It Black” ter começado a definir um rumo, embora de pouca duração, para os Stones, “Ruby Tuesday”, B-side para “Let’s Spend the Night Together”, era mais um sinal que a banda de Brian Jones (principalmente), Mick Jagger e Keith Richards (menos) começava a piscar um olho às lantejoulas e drogas sintéticas com iniciais.
Estas sessões tiveram lugar entre Los Angeles e Londres, com a ajuda do seu produtor de sempre, Andrew Loog Oldham, parceria que terminaria a meio das gravações de Their Satanic Majesties Request. O produtor inglês estava a trabalhar, na mesma altura, no disco ao vivo Got Live If You Want It, uma obrigação contratual, o que fez tardar o lançamento deste Between the Buttons, claramente um disco mais 1966 que 1967, se é que os entendidos me entendem.
Curioso foi o facto de Brian Wilson dos Beach Boys ter estado presente na última fase da mixagem do disco, mais concretamente durante a música “My Obsession”, a qual o líder criativo dos Beach Boys diz ser a sua música preferida de sempre da banda inglesa.
Apesar deste ida e volta do disco entre vários estúdios, Mick Jagger nunca ficou totalmente contente com o resultado de Between The Buttons. Numa entrevista, o vocalista dos Stones diz que se perdeu tanto tempo em “overdubs” que o disco perdeu clareza e que as músicas perderam o som que a banda planeou terem. Jagger disse também que o disco ficou mau e que “Back Street Girl” [presente na versão inglesa] foi a única que se aproveitou, considerando o resto do disco uma completa porcaria.
Isto vindo de quem vem poderia querer dizer que o disco afinal não era assim tão bom mas muitas vezes os músicos ficam tão fartos de gravações e misturas que perdem o carinho pelo disco que acabaram de o fazer e este Between The Buttons é isso mesmo. Um disco que muita gente não dá muito por ele. Não faz parte da discografia da maior parte do público que gosta medianamente de Rolling Stones, porém é um disco que, quando ouvido, na sua íntegra revela pérolas que só discos semi-ocultos o conseguem fazer. “Yesterday’s Papers”, faixa que abre o disco na versão inglesa, é a primeira música que Mick Jagger escreveu sem qualquer ajuda dos seus companheiros de banda. Música que ironiza a relação de Jagger com a sua ex-namorada, Chrissie Shrimpton, “Yesterday’s Papers” tem Brian Jones no vibrafone e utiliza ainda um cravo que lhe dá outro toque distinto do som puro e duro do rock dos discos anteriores. Outras faixas como “Connection”, “Cool, Calm and Collected” e “Complicated” já fariam claramente este disco valer a pena e cada uma nos seus moldes. A primeira mais jovial e alegre, a segunda mais complexa e com várias mudanças de ritmo e estilos e a terceira ao nível de “Let’s Spend the Night Together”. A juntar a estas temos a tal preferida de Brian Wilson, “My Obsession”, que, obviamente, contém parecenças com o som dos Beach Boys, especialmente na parte dos coros mas que também tem algo de Zombies.
Para um disco que foi tratado como sendo quase lixo, Between the Buttons portou-se muito bem. Um dos melhores segredos da vasta discografia dos Stones.