Mogwai sussurra-nos ao ouvido no disco Les Revenants. Já conhecia o seu mundo post-rock intenso, capaz de transmitir uma rara serenidade. Mas este álbum transcende a calma com a sua subtileza de acordes. Gosto de ouvi-los durante a noite, que me traz essa quietude, ou para fugir à azáfama do dia. E o melhor, é que este disco é diferente dos restantes que a banda escocesa já tinha produzido. Podia perder-se neste estilo que às vezes peca por acabar a ser demasiado semelhante; mas os Mogwai têm conseguido um lugar especial neste universo pós-rock (na sua faceta menos pesada). Se num álbum como Mr. Beast encontrávamos riffs que nos traziam muita da intensidade, aqui ganha a simplicidade de notas, onde o piano predomina.
Ponho “Hungry Face” e “Fridge Magic” em difícil destaque. E depois temos “Portugal”, a décima faixa do álbum. Porquê o nome não sei, mas há alguma preocupação e seriedade naquele tema que me fazem associar a música ao nosso país. A verdade é que todo o disco distribui vários sentimentos diferentes, numa jigajoga emocional explicada pela série Les Revenants, para a qual os Mogwai construíram esta exímia banda sonora. Se aquelas catorze faixas já tinham o poder que tinham, depois de ver o trailer da série francesa, o disco ganhou um outro sentido. Não vi nenhum episódio, mas o vídeo promocional – que conta com temas mais antigos do grupo – deu-me gosto em ver e em querer conhecer. Les Revenants é um drama que explora uma realidade em que temos de volta na nossa vida as pessoas de quem gostamos que morreram. Larga a fantasia dos zombies e trá-los reais e é aí que a banda sonora ganha o seu papel fundamental, alimentando as emoções que se vivem de um lado e de outro do ecrã.