Já tínhamos saudades da eletrónica orgânica dos Micro Audio Waves – há um novo disco que, como sempre, é mais que um disco. Num momento de degustação musical acelerada, em que o single ganha ao conceito, eis o grupo de Flak e Cláudia Efe novamente a pedir-nos tempo e atenção. Faziam falta.
Foram quase 15 (!) anos de ausência. O mundo mudou, o mundo da música muito mudou, mas nos Micro Audio Waves não houve revoluções (isto é um elogio). Glimmer até traz de novo o coreógrafo Rui Horta num espetáculo, contam os relatos, que acrescenta virtudes ao objeto musical que nos é apresentado.
Primeiro as menos boas notícias para depois nos concentrarmos nos méritos: Glimmer não é musicalmente tão inspirado como Zoetrope, colaboração de 2009 dos Micro Audio com Rui Horta – monumento de força eletrónica com sensibilidade, músculo e criatividade.
Chegados aqui, recentremos o foco: Glimmer é um belíssimo disco que, no que às canções diz respeito, pode parecer pouco inventivo ou inovador no contexto dos Micro Audio Waves – certamente que, visto o espetáculo e idealizado o conceito no seu todo, a sensação será no mínimo atenuada (aqui assumimos a dificuldade: vimos Zoetrope e ainda não vimos Glimmer em palco, o que tenderá a criar alguma injustiça perante a novidade).
Destacar momentos particularmente superiores ou distintos é tarefa hercúlea: aqui, o todo ganha à soma das partes, o conceito prevalece sobre o instinto, o corpo está tonificado no global. As faixas iniciais são fortes (em particular a abertura com “The Day We Left Earth” e o single “Liquid Luck”), mas remetemos momentos preferidos para a experiência de cada um.
Glimmer são pouco menos de 40 minutos de elegância e sofisticação pop – ao vivo, consta, o espetáculo é maior e vai lá atrás na carreira dos Micro Audio Waves. A viagem vale a pena e, no final, só pedimos que uma nova aventura não demore nova década e meia.