Quando a República está em crise, a monarquia faz prova de vida – o Rei e a sua corte estão aí para as curvas.
A noite era de pompa e circunstância – afinal de contas, não é todos os dias que o Rei faz anos. Ainda para mais um número redondinho, que o fez sair de charrete da sua cidade natal, para vir à capital do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves mostrar o seu fulgor e capacidade de assumir o poder. O público, reunido numa das salas mais emblemáticas da cidade, e constituído sobretudo por nobreza e aristocracia, não parecia à partida encantado com a possibilidade de se deixar arrastar para o velho regime, já testado durante séculos.
O Rei perguntou ao seu Espelho se havia alguém no Reino mais belo. Fez olhinhos ao clero, pedindo que lhe atirassem água-benta. Condenou a República à Cadeira Eléctrica, proferindo de seguida que havia no reino um lixo novo para limpar e demonstrando controle sobre as suas ambições imperialistas (mais vale nunca mais crescer).
Por ali seguiu o Rei, desfilando a sua propaganda com a Pronúncia do Norte, cantando música do seu congénere de terras de Vera Cruz, declarando a Morte ao Sol, sendo efectivo na mensagem a passar, sem moralizar. Nesta fase já os súbditos estavam mais animados, a bater palmas, de pé, a dançar e cantar em uníssono hinos que pessoas dos quatro cantos do Reino conhecem de ginjeira, e que fazem parte intrínseca do seu ADN. Mesmo que Sua Majestade tenha que ter recorrido a um livro para se lembrar da letra da sua mais conhecida mensagem, num bom momento teatral, a comunhão foi evidente.
A tomada de poder estava consumada. Dom Rui I e a sua corte, Tóli Machado, Jorge Romão, Samuel Palitos e Ben Monteiro abandonaram o palco entre salvas e gritos de “Viva El-Rei”. A cerimonia de coroação deu-se como terminada com uma certeza – a Dom Rui, a coroa assenta muito bem.
Fotografias: Nuno Mendes











