Aqui chegamos ao terceiro capítulo da aventura DIIV, no qual Zachary Cole Smith, o ator principal, faz as pazes com o seu conturbado passado.
Banda que nos conquistou desde o início da sua carreira, já lá vão sete anos, os DIIV chegaram finalmente a um ponto de estarem bem com a vida. Os episódios rocambolescos vários que os atingiram – mudança de nome da banda, prisão de Smith por posse de heroína e consequente corropio de clínicas de reabilitação, baixista despedido por comentários racistas e homofóbicos em público – parecem, de facto, passado.
Nas palavras do próprio vocalista e mentor da banda, foi necessário recuperar as relações que tinha na vida, onde se incluem naturalmente os membros da banda e com eles aprender novamente a comunicar e colaborar. Até porque Cole reconhece publicamente os problemas que passou e desde que entrou nos AA assumiu a necessidade de pedir desculpas aos seus fãs, como parte do conhecido programa dos 12 passos. Sobretudo assumir a mentira que foi dizer que o álbum anterior, Is The Is Are (2016), foi feito sóbrio.
Mas vamos à música – Zachary Cole Smith sempre citou os Nirvana como uma influência chave, falando deles nas entrevistas dadas, dizendo que o álbum que sempre o acompanha é In Utero e, paralelamente, tem semelhanças física com Kurt, para além da namorada rock star (Sky Ferreira). No concerto dado o ano passado em Paredes de Coura as aparições de referências aos Nirvana eram constantes no vídeo projectado e, last but not least, o nome da banda advém da estrondosa “Dive” (como referido acima acabaram por mudar a grafia devido ao facto de já existir uma banda com o mesmo nome). Mas a proximidade ficava por aí – em termos sonoros não se notava resquícios da banda de Seattle. Até agora. Em Deceiver é clara a introdução de um lado mais grunge às canções, mais pesado e obscuro, que encaixa como uma luva no shoegaze a transpirar reverb, patente nos discos anteriores, tornando o álbum expansivo e mais intimamente relacionado com o tema de “fui drogado, já não sou, mas as marcas estão cá para quem as quiser ver”.
“Blankenship” é a melhor amostra disto mesmo, quiçá a música mais bem conseguida do disco. Tensa, em crescendo, com paragens e arranques, um belo riff, sem dúvida uma das músicas do ano de 2019. Mas há naturalmente mais momentos de realce no álbum, desde o primeiro single do mesmo – “Skin Game” onde há também laivos de guitarra de Sonic Youth. Em “Between Tides” é onde Zachary Cole Smith é mais apologético: “Apologize to all I see/For everything I used to be”. Há que realçar também deste disco uma mudança na elaboração do mesmo – onde até então era Smith que fazia tudo e os restantes elementos eram meros executantes, Deceiver foi concebido como banda, havendo inputs de todos (Andrew Bailey guitarra, Colin Caulfield baixo e Ben Newman bateria).
Sempre me questionei o que passa com os ciclos de música, e se não seria já tempo de começarem a aparecer bandas que citam Nirvana, Pearl Jam, Soundgarden, Stone Temple Pilots, como influências. Será que é agora, passados que estão praticamente 30 anos do outbreak de Seattle? É haver mais bandas a seguir o exemplo dos DIIV…