Azniv Korkejian volta aos discos para nos assombrar com mais uma colecção de músicas tão bonitas que necessitam da nossa total atenção. Em solidão, de preferência.
Se ao primeiro disco ninguém deu pela sua presença, em Bird Songs of a Killjoy só não a vê quem não quer. Estamos perante uma cantora fantástica, dotada de uma voz tão bela que consegue fazer-nos abstrair de tudo o que se passa à nossa volta durante os quase 40 minutos do disco.
O segundo álbum de Bedouine, nascida em Aleppo mas a viver desde cedo nos Estados Unidos, é uma colecção musical que nos permite ouvi-lo em estados de espírito diferentes. Como música de fundo, calmo como uma brisa de verão, ou, de preferência, com muita atenção, tentando encontrar todas as camadas de instrumentos presentes em cada faixa.
Liricamente, encontramos temas comuns de amor, perda e reflexão, muitas vezes vistos sob o prisma de uma ave – seja presa ou livre para percorrer o mundo, como se pode encontrar na letra de “Bird Gone Wild”, que descreve, certamente, a vida atribulada de Azniv Korkejian. Enquanto criança, a sua família mudou-se da Síria para a Arábia Saudita e daí partiu para os Estados Unidos da América, onde passou por várias cidades até se fixar em Los Angeles. Foi, certamente, uma altura complicada e tumultuosa para a artista, agora conhecida como Bedouine, e nesta faixa ela diz-nos isso mesmo: “Don’t let me down / I’m beating ‘round a cage like a Bird gone wild”.
Há, em Killjoy, um conforto no seu som e no modo como Bedouine dedilha a sua guitarra, o que se deve, uma vez mais, ao seu produtor, Gus Seyffert, responsável pelo áudio analógico dos seus discos, todos gravados em fita, embora haja mais camadas de som e instrumentos nas suas canções neste seu segundo trabalho.
Podíamos estar aqui a referir todas as influências que Bedouine traz da época dourada de Laurel Canyon, mas a sua voz, bela e deliciosa, faz-se valer por si. A isto aliamos as belas letras encontradas em músicas como “When You’re Gone”, “One More Time”ou de “Hummingbird”e temos um disco folk incrível. Por outro lado, canções como “Dizzy” e o single “Echo Park” mostram uma Bedouine mais “moderna”, com uma produção mais eléctrica, com camadas de sons a acompanhar a sua bela voz.
Bird Songs of a Killjoy não inventa a roda, mas é um trabalho muito pessoal. É doce, sonhador, melódico e é, sobretudo, um disco belíssimo que nos encanta a cada audição. E de desmancha-prazeres (kill joy) não tem absolutamente nada.