A Márcia que conhecíamos de Dá (2010) cresceu. Tem agora mais 3 anos do que tinha nesse seu disco de estreia, já tocou mais, já viveu mais..e pelo meio, foi mãe. Por isso este seu 2º disco é mais adulto, menos menina e mais mulher, menos saltitante e mais sereno.
Serenidade é, aliás, a ideia que melhor resume este conjunto de 12 canções. Serenidade de quem o faz, serenidade para quem o ouve. Nota-se que a Márcia está em paz e bem disposta, e leva-nos até esse seu sítio de paz. Também não é ao acaso que este Casulo é lançado na Primavera. Este é literalmente um disco de primavera..ao fim da tarde – pacífico e bonito. A começar logo na capa e nos desenhos do livrete feitos por Claudia Guerreiro (Linda Martini).
Abrindo o disco, pela primeira música, ficamos logo a perceber o que aí vem. “Decanto” é uma excelente música para principiar o disco, porque anuncia tudo o que aí vem. Baladas eléctricas, momentos instrumentais, guitarradas em looping hipnotizante, arranjos grandiosos.
Para quem já conhece a música da Márcia, ela basicamente continua a fazer o que fazia, mas mais sofisticadamente. Continua a fazer baladas acústicas, mas agora com guitarra eléctrica. E não é por ter uma guitarra eléctrica nas mãos que ela começa a desferir golpes de rock nem a berrar ao microfone – mantém a mesma calma e continua a fazer música íntima e reflexiva. Apenas a executa de forma diferente, mais consistente, em grande parte por causa dos arranjos milimétricos do guitarrista Filipe C. Monteiro, que elaborou uma pirâmide de guitarras, sopros, pianos, xilofones, pedal steel.
A acompanhar, a voz delicada mas forte, que canta mais segura. Ainda assim, a Márcia optou por dar mais primazia ao lado instrumental instrospectivo – muitas das músicas têm mais espaço instrumental do que cantado. Nesses momentos de reflexão, escutamos os pensamentos e o lado mais íntimo de Márcia a dedilhar tranquilamente a guitarra eléctrica.
Além da excelente “Decanto”, que abre o disco, “Menina” é agitada de forma agradável pelo forasteiro Samuel Úria, que canta desbragadamente. “Delicado” está cheio Havai e hula hula. “Hora Incerta”, com guitarras espaciais, é uma música de suspense.
Com este disco, leve e genuíno, Márcia saíu do Casulo de forma airosa e elegante.