
Mais um dia de muitos concertos excelentes. Comecei com uma entrevista (online em breve) ao líder dos Islands, Nick Thorburn. Com esta excepção, este foi um dia com menos oportunidades de falar com artistas, apesar de ainda ter cumprimentado o DJ de Earl Sweatshirt (e um dos habituais em Odd Future), Lucas Vercetti, e de quase ter falado com as irmãs Danielle e Alana Haim, não tivessem passado por mim a voar. Face àquilo que o festival já me deu, não me posso queixar… Posso sim, que a Danielle era para casar, sem pensar muito no assunto.
Sílvia Perez Cruz & Raül Fernandez Miró (Auditori): É obrigatório ir ao Auditori, no mínimo, uma vez por edição. É uma sala fabulosa, perfeita para concertos mais íntimos. O concerto deste duo pareceu uma mistura entre Edith Piaf e Dead Combo, com qualquer coisa de Hope Sandoval / Mazzy Star à mistura. Sílvia é dona de uma voz e capacidade interpretativa excelentes. A descobrir.
Islands (palco Ray-Ban): Tive a oportunidade de confirmar o que esperava dos Islands ao vivo, eles que têm um corpo de canções leve, brincalhão e dotado de inteligência. Um espectáculo saltitão, com Nick Thorburn como foco das atenções.
Courtney Barnett (palco Pitchfork): A super-talentosa poeta-com-uma-guitarra Courtney Barnett deu um concerto bem mais pesado e rockeiro do que o seu álbum / duplo EP A Sea of Split Peas faria prever. A zona do palco da Pitchfork esteve praticamente cheia. Vamos ouvir falar desta australiana durante muitos anos.
Superchunk (palco ATP): Estes históricos do indie rock americano têm duas velocidades. Moderadamente rápido e ligeiramente menos rápido. Tendo já visto Superchunk, era o que esperava – com a excepção do facto das canções recentes, do disco I Hate Music, colarem de forma perfeita com as mais antigas. Adorei, considerando que o material me fala ao coração, como as incrivelmente interpretadas “Hyper Enough”, “Hello Hawk” e “Void”. Grandes.
Caetano Veloso (palco Ray-Ban): Os mais de 70 anos de Caetano não se notam minimamente. Não sendo profundo conhecedor da obra dele, pude ver que a obra do músico se adequa perfeitamente a um festival como este, mantendo-se francamente moderno. Com distorção de guitarra e tudo.
Earl Sweatshirt (palco Pitchfork): Sendo uma generalização, os concertos de hip-hop tendem a ser muito maus. Este pertenceu à minoria dos que não são. Depois da actuação bombástica do colectivo em 2011, um membro dos Odd Future volta a dar cartas no Primavera.
Connan Mockasin (palco Vice): A desilusão do festival. Autor de óptimo material gravado, Connan acabou por dar um concerto demasiado macio e lento. Suspeito que, noutra ocasião, será pelo menos tão bom como os discos.
Kendrick Lamar (palco Heineken): Mais um concerto de hip-hop a negar o que afirmei num dos parágrafos anteriores. Kendrick veio ao Primavera para conquistar. Com uma banda excelente, na linha dos Roots, a acompanhá-lo, o rapper não saltou nenhum dos êxitos. A segunda canção, “Backseat Freestyle”, fez o festival explodir. O baterista, um aristogato da percussão à la Questlove, teve momentos de perícia surpreendente, com a batida colada à voz de Kendrick. «I will be back», disse o rapper variadíssimas vezes no final do concerto. Apesar do concerto curto para um cabeça de cartaz (50 minutos), não percam.
Seun Kuti & Egypt 80 (palco Ray-Ban): Vi apenas a última canção, mas o público estava histérico. Pelo que pude ouvir, tinha razão para aclamar o filho de Fela Kuti e a sua banda.
Nine Inch Nails (palco Sony): Trent Reznor está em boa forma e a cantar impecavelmente. Os Nine Inch Nails estão preparados para o pulo, ainda que improvável nesta fase, de se tornarem cabeças de cartaz de muitos festivais. Som imaculado e um aparato cénico impressionante, especialmente em termos de luzes. Isto foi possível ver nas escassas cinco ou seis canções que acompanhei, que incluiram “The Hand That Feeds” e “Head Like a Hole”, tendo fechado o alinhamento com a inevitável e belíssima “Hurt”.
Foals (palco Heineken): Um concerto que não chegou a uma hora, mas que foi o suficiente para ser um espelho dos Foals: ainda tocam demasiado material irrelevante – mas quando são bons, são excepcionais. O alinhamento começou com 10 minutos de uma jam incompreensível e pouco activa; “Total Life Forever”, a segunda canção, é tolerável; “My Number” também não é um portento artístico, ainda que popular; em “Providence”, aqueceram e começaram a rockar a sério. Tudo o resto, foi perfeito, com as soberbas “Spanish Sahara”, “Red Socks Pugie”, “Late Night” e “Inhaler” – todas seguidas, numa sequência incrível de canções. O final do concerto, como tem sido habitual, deu-se com a antiga e excelente “Two Steps Twice”. Mais um álbum bem sucedido e serão gigantes.
Cut Copy (palco ATP): Palco cheio para um dos vários finais do evento, com milhares de pessoas e eu, que não sou, de todo, admirador da banda. Acredito que tudo o que está marcado para o Primavera Sound tem o seu lado indie. E não compreendo o que é que os Cut Copy têm de indie. As letras são simples e fáceis. Melodicamente, não existe uma nota que não seja conformista. Dito isto acerca do material de base, são muito bons ao vivo. Com melhores canções, seriam como uma espécie de !!!. Portanto, uma espécie de óptimo.
Como seria de esperar, não me foi possível ver tudo o que queria, como Television, Blood Orange, Godspeed! You Black Emperor e um daqueles nomes que ajudou a construir a lenda do Primavera Sound, os Black Lips.
O festival pode ter tido o último dia, mas amanhã há mais. Dica: o Primavera não acaba.
(Fotos cedidas por Dani Canto e Eric Pamies)