Estamos no ano 4 depois de Corona. Todo o Planeta está ocupado por festivais mainstream patrocinados por megamarcas … Todo? Não! Várias aldeias povoadas por irredutíveis melómanos resistem ainda e sempre ao invasor. Felizmente, Á-dos-Loucos é mais uma delas e recebeu, pela oitava vez, o Massacre Metal Fest, organizado pela banda Speedemon e pela UDCA Adoslouquense.
Eu era normal até o metal dar cabo de mim!
(Repórter Estrábico, “Malditos Headphones”)
E ainda bem! Estejam, no entanto, tranquilos … não se seguirá uma ode aos vastos e profundos méritos do Heavy Metal. Não é este o espaço e não serei eu, definitivamente, a melhor pessoa para o fazer. O Metal começou a dar cabo de mim na adolescência, nunca mais me deixou, mas não sou ortodoxo, e principalmente, não consigo chegar a tudo o que vai sendo feito ao longo dos anos e ao redor do Mundo, até porque não será à toa que, ao contrário do Rock’n’Roll ou do Punk, não há relatos – nem exagerados, nem dos outros – da morte do Heavy Metal.
Gostaria, porém, de partilhar convosco que é raro o evento metaleiro onde não me tenha sentido em casa, onde não me tenha sentido tratado como parte da família. O último sábado foi mais um exemplo disso. Simpatia a rodos, condições fantásticas e uma vontade transbordante de levar a música aos seus fãs! E é sobretudo de louvar que com 8 bandas, e alguns cortes na corrente elétrica, a derrapagem nos horários de atuação tenha sido mínima.
Infelizmente, uma altercação entre este vosso escriba e uma famosa aplicação de navegação fez-me perder a atuação dos Legacy of Payne. As minhas sinceras desculpas à banda. A ver se vos apanho em breve.
Seguiram-se os Warout com o seu thrash metal tradicional. Em flagrante excesso de velocidade – é um elogio, até porque já tinha desligado a maldita aplicação – o quarteto nortenho pôs o público a mexer, sobretudo quando investiu numa versão do clássico “ Whiplash”.
Os Dolmen Gate apresentam um som mais melódico e próximo das franjas mais clássicas do Heavy Metal tradicional, com uns pózinhos mágicos de Power Metal pelo meio!
Confesso que não sei se Kiko (um dos guitarristas dos Dolmen Gate) chegou a sair do palco – há mesmo muitas atrações num festival metaleiro! – mas quando voltei à sala ao som dos primeiros acordes dos Nagasaki Sunrise, continuava no mesmo sítio … só que desta vez a tocar bem mais rápido, para apanhar o ritmo tresloucado do quinteto alfacinha. O som dos Nagasaki é intenso e isso nota-se tanto em cima do palco como na audiência. Posso não ter percebido a coisa bem, mas parece-me uma estranha mistura entre a sonoridade NWOBHM (principalmente nas guitarras) e uma agressividade punk and roll. Delirante!
Diz o povo que santos da casa não fazem milagres, mas é mentira. Os Speedemon fazem parte da organização do evento, foram as maiores vítimas dos mencionados cortes na corrente elétrica, mas não perderam nem a garra nem o sorriso por um milésimo de segundo. Excelente exercício de Thrash Metal para uma sala cheia e vibrante.
Acabados de chegar de uma tour por palcos europeus, os ToxiKull aproveitaram a embalagem para um concerto em que conseguiram manter o público em ponto rebuçado no seu equivalente metálico.
Confesso que se seguiu o momento que eu mais ansiava. Ver pela primeira vez os Holocausto Canibal. Eu avisei que não era um ortodoxo, porque não poderá haver desculpa para ter perdido esta instituição do Grindcore/Death Metal. Afinal de contas, são 27 de anos de história e um périplo pelo Mundo a que estamos apenas habituados a ver em bandas bem menos underground. A espera valeu mais do que a pena e as minhas expectativas espezinhadas (é uma coisa boa neste contexto) pela brutalidade demolidora do quarteto do Porto. Onde é que tocam a seguir?
E por falar em bandas underground, que todos deveríamos ver e ouvir pelo menos uma vez, os Filii Negrantium Infernalium fecharam o Massacre Metal Fest com o carisma que têm construído a sua reputação. Belathauzer (voz e guitarra) é um cromo, daqueles que nunca iremos trocar, com tanto de comediante quanto de virtuoso. O som dos Filii é tão pujante quanto espirituoso … imaginem os ena pá 2000 em esteróides e mesmo assim estariam longe. Não acreditam? Vão ver!