Apesar da sua longevidade, os Eyehategod não assentaram nem vivem da nostalgia, continuam a fazer música excitante e a meter-se na carrinha, que para bem dos nossos pecados, veio até Lisboa!
Reza a lenda que nos finais da década de 80 (do século passado), um disco intitulado Gluey Porch Treatments de uns tais Melvins terá chegado às mãos e aos ouvidos de um bando de miúdos de New Orleans, até então entretidos com o Punk Hardcore e o Heavy Metal. A mesma estória prossegue e conta-nos que terá sido neste momento que tais jovens perceberam que, utilizando ritmos mais lentos, o seu som ganharia peso sem perder pitada da vertigem que já trazia das ruas mais sujas da apelidada Big Easy. É neste cenário lamacento do delta do Mississipi que são germinadas bandas fundamentais da história da música pesada americana como os Crowbar, os Soilent Green e os nossos Eyehategod, e um estilo a que os críticos musicais chamariam de Sludge Metal.
Esta noite, mais de 35 anos depois, tenho Mike IX Williams e Jimmy Bower (Power) a menos de um metro de distância, tão perto que é ainda mais difícil de acreditar no que estou a (vi)ver do que de focar a objetiva. Tão perto que, ali na primeira fila, mesmo em cima do palco, me desvio com medo atrapalhar estas figuras míticas do underground … e, admito, com receio de enfrentar que em cima do palco estão “apenas” quatro humanos, que apesar da sua fantástica obra artística, estão ali a fazer pela vida deles! São estrelas, no meu coração são, e por isso, há que viver, aproveitar, e entre uma fotografia e outra fechar os olhos e deleitar-me com o som.
O alinhamento atravessa toda a carreira da banda passando por marcos como “Lack of Almost Everything”, “New Orleans is the New Vietname”, pela minha preferida “Medicine Noose“ e acabando no hino revolucionário “Everything, Everyday”! A ideia de que continuam tão pujantes e relevantes mesmo depois de três décadas, nota-se na diversidade geracional da plateia que enche a sala, repete as letras beatnik hardcore (permitam-me a liberdade) de Mike IX Williams e clamam por um encore, como há muito não via num concerto. A banda voltou mesmo para um enfeitiçado “Sabbath Jam” … que ainda ecoa na minha mente!
Para aquecer os ânimos, os Scatterbraniac trouxeram de Vila Nova de Gaia o seu Punk Hardcore enérgico e catártico. Na sua estreia em palcos alfacinhas, o quarteto fez o pino, deu o litro e conseguiu vencer a típica timidez (ou será inércia?) inicial do público que ia enchendo o RCA.