Lançado em fevereiro de 2024, The Closest Thing to Silence é o resultado da colaboração entre o compositor francês Ariel Kalma e a dupla Jeremiah Chiu e Marta Honer. Tendo como base o improviso e a colagem, o álbum de estreia do trio incorpora vertentes de new age, ambiente, eletrónica e jazz, eloquentemente combinadas numa experiência ilusória e quase hipnótica.
Mergulhar neste álbum é algo semelhante ao ato de meditar. Desde a faixa de abertura, o tempo parece parar e envolver o ouvinte num casulo de serenidade. A delicada interação entre sintetizadores, flautas e texturas orgânicas dá vida a uma paisagem que rapidamente nos retira do mundano. No seu desenrolar, o álbum assemelha-se a uma grande odisseia, cada um dos seus capítulos invocando um panorama diferente nas nossas mentes. “Breathing in Three Orbits” brilha com arpejos cristalinos, evocando imagens de gotas de orvalho tranquilas. Ao mesmo tempo, “Écoute au loin” tece uma tapeçaria de ritmos e harmonias etéreas, forçando o ouvinte a render-se ao seu fluxo e refluxo.
Ao longo de todo o disco, é demonstrada uma mestria da instrumentação acústica e eletrónica, evidente pela mistura fluida de instrumentos de sopro, aparelhos analógicos e ritmos pulsantes. Durante as minhas várias audições deste álbum, uma ideia nunca saiu da minha mente: “Isto faz-me lembrar uma colagem!”. No entanto, claro, aqui os recortes de revista são trocados pela sua contrapartida sonora, dando origem a uma bela e interessante manta de retalhos musical.
Quando combinadas, estas características trazem ao de cima o aspeto mais cativante de The Closest Thing to Silence – a sua capacidade de evocar uma profunda sensação de sossego no meio do caos da vida moderna. Este projeto procura servir de lembrete à beleza e serenidade que residem nos momentos de maior simplicidade, uma filosofia que reflete diretamente a visão pessoal de Ariel Kalma em torno da expressão musical: “A música, para mim, é a coisa mais próxima do silêncio. Quando se tiram as palavras, quando se tira a mente e se deixa tudo lá dentro… isso é música”.
Texto de Tomás Peixoto