Do primeiro ao último tema, Weyes Blood recupera, como só ela sabe, sonoridades da década de 1960 e cruza-las com pormenores oriundos de instrumentos de corda e sopro, criando hinos para o futuro.
O início do quinto álbum de Weyes Blood é tímido, mas prende a atenção do ouvinte. Assim que a artista californiana canta, calmamente, os versos iniciáticos de “It’s Not Just Me, It’s Everybody” (Sitting at this party / Wondering if anyone knows me / Really seems who I am / Oh, it’s been so long since I felt really known), os ouvidos agarram-se à voz doce de Natalie Mering, que, desde logo, revela o tema central do LP: And In The Darkness, Hearts Aglow aborda a solidão, escura e traiçoeira, que afeta a espécie humana.
No Bandcamp, Mering explica que o presente trabalho constitui a fase dois de três de um processo criativo que começou com (o também bem recebido por nós e pelos outros) Titanic Rising, de 2019. Se, nesse LP, estávamos debaixo de água, em And In The Darkness, Hearts Aglow, encontramo-nos na superfície de um mundo instável, onde a força dominante é a Escuridão. Weyes Blood dá-nos a conhecer este mundo grotesco através de dez sublimes canções, que, ao todo, representam 46 minutos de chamber pop. Do primeiro ao último tema, a artista recupera, como só ela sabe, sonoridades da década de 1960 e cruza-las com pormenores oriundos de instrumentos de corda e sopro.

Ainda que Titanic Rising e And In The Darkness, Hearts Aglow protagonizem uma aproximação em termos sonoros, na segunda produção, Weyes Blood inscreve novas experiências instrumentais. Em And In The Darkness, Hearts Aglow, as canções constituem criações superiores, que revelam o crescimento e maturidade da artista: estamos perante um álbum de hinos magicamente construídos e orquestrados. (Temas como “Children Of The Empire”, “Grapevine” e “The Worst Is Done” viciam, ainda que correspondam a produções complexas e cuidadosamente trabalhadas.)
Assim, o quinto álbum da cantora, que nasceu na eternamente solarenga Califórnia, é o que se escuta com maior leveza. A partir do momento em que o ouvinte se deixa levar pelo canto de Weyes Blood, interiorizando as mensagens oníricas que a artista propaga, é possível que entre num estado de dormência, durante o qual é incapaz de assimilar os mantras, ora esperançosos, ora esmorecidos, de Weyes Blood, que continua a acreditar que o Mundo deixará de estar envolto na Escuridão, caso Deus a transforme numa flor (“God Turn Me Into A Flower”), o eterno símbolo da paz, da vida e da luz.
Iremos sair desta Escuridão. Basta-nos confiar na palavra e na voz de Weyes Blood.