Ricardo Toscano mantém o nível a que nos habituou, variando, experimentando, mas sempre focado no resultado, desta feita de seu nome Chasing Contradictions. Disco sólido e deslumbrante.
A um comum conhecedor de jazz só na óptica do utilizador não se pode exigir muito, pelo que começo este texto a pedir-vos que não exijam deste texto, de mim, muito. O jazz é todo um mundo deslumbrante mas ao mesmo tempo aterrador pela imensidão, pelo que o seu domínio é reservado a poucos, e eu claramente não sou um deles. Disclaimer feito, avancemos por Chasing Contradictions adentro, um dos discos do ano de 2022 para o Altamont.
Ricardo Toscano apresenta-se neste disco em trio, com os comparsas Romeu Tristão (contrabaixo) e João Lopes Pereira (bateria), portanto desta feita sem inclusão de piano ao barulho. Perde-se um conforto harmónico, ganha-se a necessidade de foco nos instrumentos servidos “à mesa”. O repasto começa com o tema que dá nome ao disco, “Chasing Contradictions”, com Toscano a mostrar ao que vem, entrando mais à frente baixo e bateria em ritmo frenético a levar o saxofone aos limites, este passando depois a vez a um excelente solo de João Lopes Pereira.
“Orange Blossom”, tema que se segue, é mais um de autoria de Toscano, mais melódico e redondinho, delicado e suave ao entrar no ouvido. Temos depois “Totem”, composição de João Lopes Pereira, “Played Twice” original de Thelonious Monk e a mais próxima de uma abordagem clásssica ao jazz, fechando depois com “Súplica – Vagas Paixões”, um fado no qual Toscano se permite improvisar com a paixão que o estilo requer.
São apenas 5 canções, com uma duração total de 35 minutos, que passam rápido mas pedem várias novas audições, ao final de qual irá descobrir os recantos vários que Toscano deixou espalhados para que o deslumbre seja contínuo e duradouro no tempo. Um belo disco de um dos nossos pontas de lança no jazz (editado pela Clean Feed, o Messi das editoras de jazz no mundo).