Uma segunda pele: brilhante, reluzente e alegre. Usamos em malas, vestidos, calçado ou berloques. Sinónimo de festa e animação, as lantejoulas têm destas coisas. Lantejoulas ou Sequin. Mesmo que não fosse tradução direta (Sequin = Lantejoulas em inglês), Sequin seria sempre lantejoulas. Pela sua cor, pelo seu cheiro, pelo seu brilho: Sequin é reluzir.
Ana Miró, a carne e osso por detrás deste projeto a solo (depois de ter trabalhado com Jibóia), lança, hoje, o seu primeiro disco, Penelope, que surge no seguimento de um período onde só ouvíamos falar de Pequim: não era das lojas dos chineses nem da compra da EDP, era do seu primeiro single, o refrescante “Beijing” que veio trazer à música lusa um toque de electro pop, que há tanto tempo faltava. Adivinhavam-se coisas boas.
Lançado neste tão esperado início de Primavera, Penelope, é a nova cara do pop português. Depois de vários anos perdido num marasmo musical, este género renasce, mostrando que não precisa de ser básico para ser popular. Temos uma sonoridade rica a nível da instrumentalização, onde o electro é rei. Com ritmos geométricos, quase metronómicos, vamos assistindo a uma nova reinvenção, faixa após faixa. De músicas mais down tempo, com baixos suaves, como “Mercúrio” ou “Origami Boy”, a enérgicas composições de pop pura, ritmada e dançável (“Peony” ou “Flamingo”), variedade não falta. Temos um toque de Matthew Dear ali, outro de Gang Gang Dance acolá e uns toques de Glasser pelo meio. Riqueza eletrónica, portanto. Uma riqueza com um distinto toque de Discotexas e a sua maluquice que faz lembrar outros tempos.
A nível de voz, muito pouco, ou quase nada se pode apontar como defeito: a Ana não têm dificuldade nenhuma em mostrar-nos que muito treino já passou naquelas cordas vocais. O seu timbre doce, com sabor a Fizz de limão e calções de banho, mostra, de vez em quando, uma sensualidade que prende. É difícil não cantarolar “ I started to cry when I looked at you” enquanto gingamos de olhos fechados e mãos no ar.
De um modo geral, temos um robusto disco pop, um som digital simples mas rico e uma voz incrivelmente sexy, reminiscente de uma Debbie Harry ou Olivia Newton-John. Tudo isto embrulhado numa aura que consegue ser animada e obscura ao mesmo tempo, enquanto um cheiro oriental paira pelo ar.
Arestas a limar só mesmo na junção da voz e do instrumental: vistos separadamente, enchem as medidas, mas a junção podia ser mais trabalhada em algumas faixas (“Hikaru Garden”, por exemplo). Tirando isso, a Penelope álbum da Sequin, faz jus à carismática Penélope da mitologia grega. O Olimpo iria certamente ter muito passo de dança para dar ao som da música que a Ana faz.
Por esta frescura, por este contagiante tónico para um final de noite ameno, por esta música que puxa sorrisos só me resta completar a ideia com que abri esta crítica: se Sequin é reluzir, Penelope é cintilar, piscar, luzir e resplandecer ao mesmo tempo.