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Sangue, açúcar, sexo e magia: o clássico dos Red Hot faz 30 anos

O quinto álbum dos Red Hot Chilli Peppers, Blood Sugar Sex Magik, não é apenas a obra-prima da banda: é um dos discos maiores da era alternativa.

Os Red Hot dos anos 80, com a sua tresloucada fusão de punk, funk e hip-hop, foram muito influentes. Bandas como os Faith no More ou os Rage Against the Machine seguiriam na sua peugada, espalhando o credo funk metal. O auge criativo dos Red Hot acontece, porém, no início dos 90 com o superlativo Blood Sugar Sex Magik (BSSM). A loucura e parvoíce funkadélica continuam lá (inegociáveis!) mas são agora temperadas com uma inesperada maturidade. Todos os astros se alinham então.

O produtor Rick Rubin foi importante, a começar pela ideia de instalar a malta numa mansão-estúdio, com tudo o que isso implica de descontracção e aconchego criativo. Rubin foi também decisivo em persuadir Flea a trocar o slap exibicionista dos primeiros discos por linhas de baixo mais simples e memoráveis (o groove gingão de “Give It Away” é um bom exemplo). Na álgebra do gosto, menos é quase sempre mais; BSSM não é excepção.

O trunfo, porém, é o puto Frusciante. E não falamos apenas da sua fluência, com os seus solos orgânicos gravados ao primeiro take. Falamos sobretudo do seu melodismo. O guitarrista já tinha dado um ar da sua graça em Mother’s Milk (1989) mas os seus contributos melódicos haviam sido discretos então. Só com BSSM é que melodias lindíssimas – como as de “Under the Bridge”, “Breaking the Girl” e “I Could Have Lied” – conquistam um lugar preponderante. O groove do funk continua fortíssimo – ou não se chamassem Red Hot Chilli Peppers – mas há agora uma inédita imaginação melódica. As coisas começam a ficar interessantes.

John Frusciante acrescenta outro elemento à estética dos Red Hot: uns salpicos classic rock. A influência mais evidente é a de Hendrix: os floreados elegantes em “Under the Bridge” e a progressão de acordes no final de “Sir Psycho Sexy” – linda de morrer! – são assumidamente hendrixianos. Em “Breaking the Girl” são os Led Zeppelin a ser convocados, não só na guitarra acústica Jimmy-Page-ana como na flauta-mellotron à “Stairway to Heaven”. A paleta de cores é cada vez mais ampla e vibrante.

Chad Smith, Anthony Kiedis, Flea e John Frusciante

Anthony Kiedis faz um percurso semelhante a nível das letras: ensaiando uma maior profundidade emocional em Mother’s Milk, cumprindo a promessa em BSSM. “Under the Bridge” ilustra bem o crescimento: a solidão mitigada apenas pela companhia da cidade onde vive, o lugar escuro do passado alumiado apenas pela certeza de não querer lá voltar. Antes a música dos Red Hot fazia-nos querer rir e pinar, agora comove-nos também. Os bandalhos estão a amadurecer.

O álbum foi um sucesso, chegando ao terceiro lugar do top de vendas. “Give it Away” e “Under the Bridge” conquistam os dois lugares cimeiros da tabela de singles. Tendo saído para as lojas no mesmo dia de Nevermind, BSSM chegou ao mundo no melhor momento possível. O chapéu alternative rock tinha esta vantagem, era inclusivo. Os Red Hot representavam a ala louca e bem disposta do novo regime, um saudável contrapeso à urbano-depressão de Seattle. Nevermind é incrível mas branquíssimo e assexuado. BSSM é mestiço e hiper-sexual, quase pagão, devolvendo à geração X o direito à tusa e ao sentido de humor. George Clinton cheio de orgulho dos seus rapazes…

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