Talentoso, delicado e prolífero como poucos, Ryan Adams está de volta. O seu 14.º disco a solo, a que se juntam dezenas de gravações menos convencionais, é homónimo e representa o que é o norte-americano por estes dias: um homem sereno, mais confiante em viver na sua pele, e com canções superlativas para atestar a boa fase.
Não será com Ryan Adams que o músico que conhecemos inicialmente nos Whiskeytown chegará a novos públicos. A forma, verdade seja dita, não muda muito de boa parte do repertório: canções sofridas, que partem da guitarra (aqui quase sempre eletrificada) e aliam qualidade lírica e melódica a uma voz especial. Há rasgos country, rock, alguma sensibilidade pop e muito bom gosto no meio disto tudo. Importante sublinhar também o papel da banda que trabalha com e para Ryan Adams, e fica a curiosidade: Johnny Depp – sim, o actor – é um dos convidados do disco, tocando guitarra em duas faixas.
«Gimme Something Good» foi o single de avanço e é a porta de entrada no disco. Canção rock, vigorosa e de fácil absorção, representa de forma válida o lado mais musculado do álbum. «Kim», logo a seguir, contrasta na doce amargura da letra e do (des)amor permanentemente presente nas cantigas de Ryan Adams. Durante 40 minutos ouvimos um disco que é de hoje, deste tempo, mas que poderia ser do passado, de há 40 anos, e, acreditamos, será um momento musical plenamente válido daqui a 40 anos.
As canções, ainda e sempre as canções. Haja quem as faça com máquinas, maior foco na percussão ou com os amplificadores no vermelho; a essência de uma boa canção é, ainda, o que fica para a memória. Ryan Adams escreve grandes canções e é um daqueles tipos que já não existem, tão bizarro quanto circense, delicado e doce na mesma medida em que parece disposto a enfiar uma murraça a quem «flirtar» com a sua esposa.
Ryan Adams é um disco de Ryan Adams feito para os seus fãs e para quem gosta de boas canções sem enfeites de maior. E é um disco bem jeitoso.