Uns muito jovens Red Hot Chili Peppers anunciam-se ao mundo cheios de funk enérgico mas ainda sem as canções que fariam deles gigantes.
Os Red Hot Chili Peppers (RHCP) nasceram em 1983 pelas mãos de quatro miúdos colegas de liceu, em Los Angeles. Anthony Kiedis (voz), Hillel Slovak (guitarra), Jack Irons (bateria) e Flea (baixo) partilhavam o gosto pela música urbana, com o funk e algum punk em destaque, bem como uma tendência para o excesso. Ou seja, criar uma banda de rock’n’roll era naturalmente o passo seguinte.
Dos quatro membros da banda, Slovak e Irons (que veio mais tarde a ser baterista dos Pearl Jam) andavam também numa série de outros conjuntos. Afinal, nessa altura, os RHCP eram pouco mais que um passatempo fixe. Acontece que o grupo foi dando uma série de concertos na sua cidade que foram gerando burburinho, pela grande energia e entrega funk com que se apresentavam nos minúsculos palcos. Por mais improvável que tal fosse, acabaram por conseguir um contrato com a EMI para gravar sete discos (!), ao mesmo tempo que os What is This?, a outra banda de Slovak e Irons, também assinou, com a MCA. Estes fizeram as contas e acharam que a melhor hipótese estava neste outro grupo, e abandonaram os RHCP. Como se pode ver, a instabilidade de membros dos Red Hot vem mesmo do seu início.
O guitarrista Jack Sherman e o baterista Cliff Martinez foram rapidamente recrutados, e foi com esse lineup que os Red Hot chegaram à primeira sessão de gravação a sério das suas vidas. Na cadeira do produtor estava Andy Gill, guitarrista dos Gang of Four, que apesar do seu pedigree underground procurou polir um pouco o som da banda e torná-lo mais mainstream.
Neste primeiro disco do que viria a ser uma longa discografia e uma carreira de grande sucesso, a grande curiosidade é ver o que já estava lá, há uns longooooos 38 anos. E o que estava, de origem, eram dois elementos marcantes da banda: o funk e o sentido de humor.
Em Red Hot Chili Peppers, há groove com fartura, e o que salta de imediato ao ouvido é o destaque dado ao baixo saltitante de Flea, que sendo uma das grandes forças motrizes da banda foi de certa forma perdendo preponderância na mistura dos discos, à medida que os Red Hot caminhavam para um campeonato mais pop. Neste primeiro álbum, o jovem Flea toca como um possuído, mesmo num registo algo show off. Kiedis, que nunca foi um grande cantor, estava claramente ainda à procura da sua voz, e praticamente não sai do registo rap. Martinez complementa bem o espectáculo de Flea, enquanto Sherman traz com a sua guitarra o swing funk com um travo de pós-punk, bem ao gosto de Andy Gill.
Os rapazes tocam com a natural confiança de quem acaba de criar uma banda e de assinar um contrato de sete discos com uma major. Mas, sendo honestos, não estava ainda à vista tudo aquilo que viriam a ser. É que o registo predominante é o da jam session, em que o groove e a espontaneidade da entrega são mais importantes do que uma verdadeira estrutura. Há convicção, há uma certa arrogância e energia juvenil, e há um ritmo funk inegável. O que falta, e só chegaria mais tarde, são as canções.
Essas seriam o elemento que fariam a diferença entre uma banda fixe ao vivo e um colosso mundial de estádios. Estavam a caminho, mas eram ainda só uma promessa, o que acaba por fazer com que este primeiro disco seja divertido mas não necessariamente memorável. Foi apenas o primeiro fôlego destes rapazes de Los Angeles, que passariam ainda por novos membros, perdas e muitos problemas até encontrar o sucesso.