Em 1985, logo no início do ano, um grupo chamado USA For Africa, composto por artistas como Bob Dylan, Ray Charles, Paul Simon, Diana Ross, Lionel Richie, Tina Turner, Michael Jackson, Stevie Wonder e vários outros, cantava a canção “We Are The World”. Um pouco mais tarde, nesse ano, dá-se um concerto histórico, de seu nome Live Aid, que apresenta inúmeros artistas, entre os quais os Queen e ainda uma reunião dos Led Zeppelin. Foi também neste ano que os Red Hot Chili Peppers lançaram o seu segundo álbum Freaky Styley.
Num ano em que os artistas acima mencionados eram os que davam cartas – já para não falar dos Dire Straits, Pink Floyd, Wham!, e até Whitney Houston, que lançou o seu álbum de estreia neste ano – pouco espaço havia para os mais medianos numa altura em que não havia internet, quanto mais Bandcamps e Spotifys . Escusado será de dizer que os Red Hot Chili Peppers não passavam de uns badamecos janados da Califórnia que ainda ninguém ligava.
O seu primeiro disco, intitulado simplesmente The Red Hot Chili Peppers, não tinha sido uma carta de apresentação por aí além. A banda, na altura, composta pelos eternos irmãos de vida Anthony Kiedis e Flea e ainda Cliff Martinez na bateria e Jack Sherman na guitarra, ficou desagradada com o toque pessoal do produtor (e guitarrista dos Gang of Four) Andy Gill, que lhe deu um tom demasiado polido. Resultado, o disco vendeu pouco e não causou grande impacto na cena musical (para não dizer nenhum).
Em 1985, Jack Sherman, que tinha entrado na banda para ocupar o lugar do guitarrista original Hillel Slovak, sai para ceder o seu lugar ao ocupante original. Slovak, que faleceu em 1988 devido a uma overdose de heroína, era uma figura central na vida de Kiedis e Flea. Se estes dois sempre foram amigos inseparáveis, Slovak era, sem dúvida, o 3º mosqueteiro. Era a terceira perna do tripé. E a felicidade que o seu regresso gerou, misturado com os excessos (e que excessos) que a idade trazia (Kiedis e Flea tinham 23 anos em 1985), fez com que Freaky Styley fosse, igualmente, um pouco excessivo. A heroína era aqui a maior compositora e inspiradora mas também a maior distratora, desorganizadora e geradora de caos.
No entanto, ainda assim, os Red Hot conseguiram editar um álbum com 14 canções, sendo duas delas covers. Uma, duma banda fetiche de Flea, os Meters (“Hollywood (Africa)”) e outra dos Sly & The Family Stone (“If You Want Me To Stay”). O sucesso do trabalho realizado em muito se deveu ao novo produtor, o icónico e figura incontornável do funk, George Clinton. Foi ele que conseguiu sacar à banda alguma responsabilidade e também alguma inspiração.
Freaky Styley tornou-se assim o álbum da banda que mais se aproximou do funk puro. Isto nota-se bem em vários temas, como na faixa-título ou em “Jungle Man” e “Nevermind”, por exemplo. Mais para o meio do disco, o punk rock dá ares da sua graça em “Battle Ship” ou em “Catholic School Girls Rule” e em todo o álbum consegue-se ouvir algum psicadelismo também. O estilo inconfundível de Flea no baixo está presente mas o que não se ouve ainda é a voz mais cristalina de Kiedis que todos conhecemos hoje em dia e que nasceu em Blood Sugar Sex Magik.
Apesar de tudo isto, Freaky Styley não deixa de ser um óptimo álbum. Por mais droga e irreverência que os Chili Peppers pudessem experimentar naquela época, a musicalidade ainda era o que mais lhes corria na veia. Bom, talvez à excepção de Slovak.